Pasta Joia Review - 17
Televisão à mineira
Em
20 de junho de 1980, o governo da ditadura militar tirou do ar a TV Itacolomi,
alegando irregularidades na administração. Primeira emissora de televisão
mineira, inaugurada por Assis Chateaubriand em 8 de novembro de 1955, ela foi a
líder de audiência no estado em todos os horários ao longo de seus 25 anos de
existência.
Para
mim, que era um menino lá do interior, o canal do indiozinho também era o canal
do Ultraman, nas manhãs de sábado, e dos Trapalhões, nas noites de domingo,
antes de ambos se mudarem da Rede Tupi para a Globo. De sua programação local,
lembro-me apenas do famoso telejornal Jornal Bancominas, apresentado por Jaime
Gomide no horário nobre.
Jaime
Gomide
Com
esses registros pessoais vagos, a nostalgia em torno do pioneirismo e da
identidade estreita da Itacolomi com Minas Gerais, sobretudo com Belo
Horizonte, só veio a me dominar mais de uma década depois do fechamento da
emissora. Foi quando tive a honra de realizar a primeira pesquisa formal sobre
ela, juntamente com colegas de Jornalismo da PUC Minas.
Colhemos
27 depoimentos de atores, jornalistas, apresentadores, técnicos e executivos
para elaborar uma monografia que serviria de ponto de partida para outras
investigações acadêmicas. O que mais me surpreendeu à época (sem qualquer
bairrismo) foi o fato de a Itacolomi ser uma ilustre desconhecida até mesmo por
estudiosos nacionais do assunto.
Estranho
porque a primeira empresa televisiva instalada em Minas foi muito popular e
serviu de laboratório para o começo de um meio que logo se tornaria uma mania e
uma marca do Brasil. Mas esse peso todo, tanto na técnica quanto na arte, ficou
mesmo tempo demais sem ser anotado e avaliado, embora a Itacolomi estivesse bem
guardada na mente e no coração de muitos telespectadores.
Lembremos
um pouco mais dessa história. Em 21 de abril de 1955 houve a primeira
transmissão televisiva em Minas. Na tarde daquele dia, uma câmera RCA TK 31
focalizou e gerou, em circuito fechado, a imagem do relógio da Igreja São José,
no centro da capital. Marcava 2h55.
Pouco
mais de dois meses depois, em 25 de junho, os lares e o comércio da capital
mineira finalmente teriam o contato inaugural com um aparelho que tinha chegado
ao País havia cinco anos: o televisor. A imagem gerada como teste pelo canal 4
era só uma grade de 13 linhas horizontais e 17 verticais, acompanhada da fala
gravada pelo radialista Roberto Márcio.
Depois
da estréia oficial, a emissora deu início a uma saga repleta de conquistas, até
seu melancólico encerramento. Do alto do Edifício Acaiaca, a torre da
Itacolomi transmitia desde clássicos do teatro e do balé, no mais nobre dos
horários, até animadas tardes de competições estudantis.
Na
lembrança de muitos ficaram sucessos com a Escolinha da Dona Peteca,
inspiradora de outro famoso programa humorístico, o musical infantil Roda
Gigante, e o Grande Teatro Lourdes, que revelou grandes talentos.
Conterrâneos
meus de Curvelo se orgulhavam, por exemplo, de nossa terra natal ter se saído
muito bem no Mineiros Frente a Frente, gincana televisiva que envolvia todas as
cidades do estado.
Um vizinho meu de porta, em Belo
Horizonte, se gabava, por sua vez, de seu chaveirinho de ex-funcionário da
Itacolomi, com a carinha do Curumim, mascote da TV. É. Memória afetiva nunca
sai do ar.
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