Pasta Joia Review - 13
A buzina do padeiro
O
pão chegou! Lá de dentro de casa a gente ouvia o padeiro Cristiano apertar duas
vezes a sua buzina corneta, tal qual a do Chacrinha. Minha mãe ou a empregada,
quase sempre junto com a meninada, corria até o portão de ferro para pegar
pãezinhos de sal e doce e, às vezes, também bolos, roscas e broas.
Nas
ruas ainda calçadas de pedra na Curvelo dos anos 1970 e 1980, essa era a rotina
de moradores no fim da tarde. Em sua bicicleta – depois uma robusta moto Vespa
–, o entregador nos oferecia um serviço que aliava qualidade, comodidade e
preço. Restou hoje a nostalgia.
O
pão vinha gostoso, quentinho, direto do forno da padaria para a mão da dona de
casa coberta de pano de prato ou a segurar o cestinho que levaria à mesa de
café da família. Eram muitas as vantagens nesse comércio a domicílio.
A
tradição era vender centenas de pães franceses por unidade, e não por quilo,
com fidelização total da clientela. Era só buzinar e, em pouco tempo, o
ambulante sobre duas rodas estava rodeada de gente. Estava pontualmente nos
mesmos lugares, faça chuva ou faça sol.
De
calça jeans surrada, camisa de malha barata, jaqueta de couro e boné, o moço
estacionava o veículo carregado com centenas de pães. Tudo acomodado no
capricho em um balaio grande de vime forrado de toalha de mesa xadrez. Até hoje
quando escuto uma buzina de borracha lembro logo daqueles assados cheirosos,
que colhíamos com pegadores espátulas. Fon-fon!
As
compras diárias eram registradas num caderninho e a conta era acertada todo fim
de mês. Cristiano evoluiu da bicicleta para a moto, e dessa para o Fusca. A
buzina mudou no carro, mas os produtos, não.
Mais tarde, já pondo fim ao serviço, o
padeiro de porta em porta virou fabricante de biscoitos e agora passava de
porta em porta com uma Kombi abarrotada de pacotes de papa-ovo e roscas de
polvilho azedo gigantes. Bi-bi!
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