Pasta Joia Review - 1
Depois
da infância, ao longo da adolescência e até o começo da vida adulta, as noites
do sábado parecem alcançar significado único e, por vezes, transcendental. A
véspera da Páscoa era, por exemplo, a data anual mais esperada pelos garotos do
interior mineiro naqueles distantes anos 1980.
Nós
não estávamos interessados em fazer a vigília recomendada pela nossa fé
católica. Também não tínhamos mais a mesma empolgação na hora de ir ao
amanhecer à caça dos ovos de chocolate escondidos pelo coelhinho fofo e
generoso. Nosso pensamento estava em alvos bem mais mundanos.
Após
40 longos dias de oração, abstinência de carne bovina e recolhimento domiciliar
longe do agito no fim de semana, nossa ansiedade era mesmo por reencontrar
estrambóticas as pistas de dança e deixar hormônios a mil. “Vamos ao baile do
Sábado de Aleluia!”, conclamava o meu irmão Adriano.
Tempo
mágico. A madrugada do Domingo de Páscoa era o quadradinho do calendário que
carregava as almejadas e inesquecíveis festas. Lá estava à nossa espera – todo
encerado e brilhoso – o salão de tacos de madeira do Clube Recreativo Curvelano
(CRC). Garçons e outros funcionários: a postos.
A
volta da rotina semanal de horas dançantes, logo no primeiro minuto do último
dia da Semana Santa, era uma bênção. O silêncio e a escuridão do local de
sonhos, no piso superior da sede social, acabavam à meia noite. Era quando a
galera antes enfileirada na portaria do clube de classe média recebia sinal
verde para subir animadamente a escada central e ocupar todo o seu
espaço lá em cima.
As
caixas de som, os canhões de luz e a máquina de gelo seco eram acionados para
requebros, rostos colados e contemplações regadas a cerveja, refrigerante, água
mineral, tônica e drinques com vodca. A penitência, enfim, acabou.
Levávamos a nossa contrição à risca,
mas também nos esbaldávamos na madrugada do Cristo ressuscitado. Tais momentos
são páginas de um livro bom, como enaltecia a letra daquela velha canção
rock’n’roll da banda 14 Bis. Como era linda nossa juventude!
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