Pasta Joia Review - 14
Amiguinhos de papel
As
melhores páginas de minha infância estão carregadas de histórias, de lugares e
de personagens. Tanto na realidade quanto na ficção, esses inesquecíveis
elementos narrativos estavam presentes naqueles dias de muita brincadeira e
alegria. No sertão de Minas dos anos 1970 e 1980, as crianças não estavam
grudadas em joguinhos eletrônicos na palma da mão ou em telonas planas na
parede do apartamento, como as de hoje. Além de correr e pular, elas gostavam
também de ler na cama, no sofá e na varanda as publicações impressas que
impressionavam mês após mês pela qualidade gráfica e de conteúdo.
Apesar
de voltada para o segmento evangélico, Nosso Amiguinho é uma
boa lembrança da minha trajetória católica em Curvelo. Publicada há quase 70
anos pela Casa Publicadora Brasileira, editora responsável por centenas de
títulos ao longo de sua existência, a revista infanto-juvenil de maior tiragem
no Brasil, com mais de 130 mil exemplares, encantou a mim e aos meus irmãos.
Adorava
receber mensalmente em casa as aventuras dos garotos Cazuza (louco por
futebol), Kiko, Noguinho (o líder), o Professor Sabino (o sabe-tudo) e as
meninas Luíza e Gina. A turminha também tem ainda o seu mascote, o cãozinho
vira-latas Azeitona. Lembro com nitidez do representante comercial da editora,
um senhor do interior paulista, com óculos de aros grossos, pele clara e
cabelos bem penteados, que nos visitava anualmente para renovar a assinatura da
revista e nos oferecer outras. Esse caixeiro-viajante da cultura fez mais de
uma dezena de aparições no meu lar e de conterrâneos.
O
legal de quadrinhos que curtimos em Nosso Amiguinho e outras
do tipo eram as seções didáticas, de curiosidades e de passatempos. Não havia
intenção explícita da revista de fazer proselitismo, de doutrinar
religiosamente. Ela apenas nos ensinava cidadania, ecologia e tolerância,
particularmente o respeito à diversidade racial. E tudo isso com muita
diversão.
Saindo
dos tempos de menino e chegando à adolescência, minha mãe assinou pra gente outras
revistas da Casa, como a Vida & Saúde (com dicas de uma
vida plenamente saudável, tema tão em voga hoje) e Mocidade (um
produto voltado aos temas mais palpitantes para a juventude da época, como
namoro, Aids e uso de drogas).
Nosso
Amiguinho, tradição na Igreja Adventista,
continua sendo um produto de qualidade e sucesso para o público infantil, com
mesmo formato e desenhos atualizados. Meu tempo dedicado às minhas leituras
domésticas na época de ensino fundamental se dividia também entre gibis de Recruta
Zero, de Os Trapalhões, do Condorito, da dupla de detetives Mortadelo &
Salaminho e das adptações de super-heróis televisivos, além das tirinhas dos
jornais (Zé do Boné, Fantasma e Mandrake).
Sempre festejei as novidades de Nosso
Amiguinho trazidas pelos Correios e as aventuras à espera lá na banca
de jornal. Muito do que sei e sou devo a esses encantadores materiais. Saudade.
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