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Mostrando postagens de maio, 2018

Embrapa, 45 anos

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Sílvio Ribas É com entusiasmo que está se celebrando 45 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Neste tempo de festa devemos ressaltar o papel estratégico da estatal para o desenvolvimento econômico e social do país, sendo ela a prova mais evidente de que investir em conhecimento é, sim, uma forma eficaz de gerar riqueza para toda a nação. O investimento firme e contínuo em pesquisa mudou a perspectiva de desenvolvimento do campo. E a busca por inovação para o setor agropecuário – com formação de recursos humanos, estudos em rede e foco nos problemas – trouxe resultados fantásticos. O objetivo da Embrapa garantir segurança alimentar para o Brasil. As conquistas, contudo, foram muito além. Hoje, o país é potência agrícola sustentável, prestes a atingir a liderança global. Em quatro décadas, a oferta de carne foi quadruplicada e a de frango, ampliada em 22 vezes. A produção de grãos saltou incríveis 555%, ampliando a área plantada em só 163%. As cr...

Meu adeus ao Alberto Dines

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Pontos-fortes da crise dos combustíveis

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Sílvio Ribas 1)     O governo federal foi imprevidente ao ignorar os alertas dados pelos caminhoneiros e outros setores sobre os riscos da escalada dos preços do diesel. Previu pagar para ver e perdeu feio, indo à lona em apenas três dias, correndo atrás do crescente prejuízo. 2)     Oposição e governo, ambos lados sob o efeito do período pré-eleitoral, criticaram duramente o presidente Temer e a Petrobras pela crise, marcada pelo desabastecimento e pela elevação dos preços de combustíveis e alimentos. 3)     Categoria ainda organizada de forma confusa e marginal, os caminhoneiros mostram excepcional força devido à anacrônica dependência brasileira da logística rodoviária de cargas. Mais de 60% de tudo que é vendido no país passa pelas estradas. São 2 milhões de profissionais do volante que mostram poder de mobilização em redes superior ao sindicalismo histórico. 4)     O óbvio é que a Petrobras ...

Ditadura na Venezuela

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Sílvio Ribas A escalada de arbitrariedades dos governos chavistas na Venezuela atingiu o seu ápice com as eleições do último domingo, dia 20. Se alguém ainda tinha algum pudor em se referir ao regime bolivariano como uma ditadura, agora não há mais qualquer resquício de argumento que sustente a ideia de democracia nesse país vizinho. Presos políticos são, infelizmente, apenas uma das muitas evidências de um sistema de absoluta exceção. A Venezuela escancara hoje ao mundo o cenário social e econômico mais caótico e desolador já visto nesse subcontinente sul-americano, digno de uma devastadora guerra. O populismo, a corrupção e o estatismo tornaram aquela nação unicamente dependente de sua maior riqueza, o petróleo, que não consegue fazer frente às necessidades de um desesperado povo. Tomadas à força, uma após outra, por sucessivos lances de dominação, as instituições venezuelanas estão violentadas e desconectadas dos cidadãos. Subjugadas pela fraude e pelas mudanças de con...

Pasta Joia Review - 34

A sabedoria do velho tropeiro  9 de novembro de 2016 Reza a mitologia grega que quando o titã Prometeu moldou os seres humanos pendurou neles dois alforjes. Na frente, um acomodava os vícios alheios e, por detrás, pendia o segundo, a colher os vícios pessoais. Por essa razão é que as pessoas enxergam com facilidade os erros dos outros, mas ignoram solenemente os seus próprios. João Camilo Penna, mineiro de grandiosos serviços prestados a este país, fez uma tocante releitura dessa lenda, à luz da sabedoria dos tropeiros que cruzavam as Minas Gerais na primeira metade do século passado. Conforme a sua versão sertaneja, inspirada na experiência do pai e do avô, o equilíbrio na montaria por longas e penosas jornadas representa uma metáfora do bem viver até o último suspiro de trajetória terrena. João Camilo Penna Os dois sacos que o viajante usa para levar dinheiro e mantimentos ganham outras posições e serventia mais sofisticada na parábola de Camilo. O da esquerda ca...

Pasta Joia Review - 33

Natal dos felizes  15 de dezembro de 2017   Nossa infância feliz no interior de Minas era feita de coisas simples. Naquelas distantes décadas de 70 e 80, até mesmo a fartura do Natal não exigia muito do orçamento doméstico. Sonhávamos acordados antes e depois de abrir os presentes na manhã do dia 25 de dezembro e ainda reservávamos tempo para louvar o mais ilustre aniversariante da data. Na sala de estar de minha casa, uma bela árvore emergia de um cacto-candelabro coberto de arranjos natalinos. A decoração era completada por toalhas de mesa vermelhas e por tocos de madeira do cerrado, que minha mãe enfeitava divinamente. Era época de brindar a vida com Sidra Cereser, o espumante de maçã sorvido como champanhe. Desfilavam pela ceia da véspera e pelo almoço da data comemorativa ao início da era cristã pratos como salpicão de frango, lagarto recheado com cenoura e pernil assado com abacaxi. De sobremesa, torta de amendoim gelada feita com bolachas. Outras opções eram a...

Pasta Joia Review - 32

A fantástica fábrica de gelo  26 de outubro de 2016 Durante minha infância em Curvelo tive a sorte de ser vizinho de um lugar incomum, que ganhava cores surreais da imaginação. Misto de galpão industrial e castelo, a antiga fábrica de gelo do Zé Ramos era, nos distantes anos 70 e 80, um ponto de transbordo entre os bem-equipados pescadores de Belo Horizonte e os graúdos peixes de Três Marias. Na breve passagem pela nossa cidade, turistas rumo à colossal represa do norte-mineiro enchiam caixas de isopor com lascas de gelo, que conservavam frutos da viagem no retorno ao lar. Tinha até quem parava ali no caminho de volta, para reforçar o congelante. Sábado, véspera de feriadão e férias escolares eram dias de comércio quente na fábrica. Nos dias de grande movimento, ficava só observando o abastecimento de carros, ouvindo histórias de pescaria. Mas o que mais atiçava minha curiosidade era saber como funcionava a linha de montagem das enormes barras cilíndricas de gelo. A gro...

Pasta Joia Review - 31

Uma Cafeteria, Três Corações  3 de novembro de 2016   Nos meus sonhos, certa casa vermelha em movimentada esquina da Praça da Savassi continua de portas abertas, vicejando como ponto preferido para encontrar amigos. A Cafeteria – conhecida como Três Corações – virou tradição em apenas nove anos de história, até o precoce fim, no último domingo do outubro de 2006. Seu súbito encerramento de atividades, há uma década, para dar lugar a uma loja de celulares, revelou o quanto eu estava agarrado a uma mesa de tampo de vidro a prensar grãos arábica. Graças à fiel presença no local, quase diária e desde a inauguração, conheci donos, funcionários e dezenas de frequentadores. Apesar da crítica geral à demora no atendimento e à limitada carta de vinhos, minha memória não lista concorrentes afetivos àquele balcão de verve parisiense. Foram vários momentos felizes: bate-papos inesquecíveis, ideias anotadas em guardanapo e confidências exaladas pelo álcool. A Três Corações era o ...

Pasta Joia Review - 30

Passos nus  11 de novembro de 2016 Ele nasceu e andou de pés descalços pelas seis décadas de vida. Não era voto de pobreza ou religião. Simplesmente nunca quis colocar nada nos pés. Ignorando protocolo, Conrado Fargnoli, mineiro de Curvelo, preferiu ser honesto consigo mesmo e professar em público sua crença: proteger-se com calçados é aceitar uma tortura. Salto alto, então, é suplício da vaidade. Sandália castiga menos que bota e, ao fim do dia de trabalho, a primeira coisa que se quer é desarrear. A sensação de alívio ao tirar sapatos, sobretudo se apertados, evidencia aversão natural à peça do vestuário. Calçar agride a natureza humana e essa contradição emerge no divã do podólogo. Muitos buscam o descanso de caminhadas na praia, descalços, deixando pegadas na areia. Outros fazem de chinelos e pantufas terapias. Crente do absurdo de se caminhar pela trilha dos outros, Conrado foi mais longe. Com os pés nus subiu ao altar e desceu ao túmulo. Ignorava consensos para de...

Pasta Joia Review - 29

O ovo da Maricota  21 de novembro de 2016 Os grotões ainda têm muito a dizer sobre a alma mineira. Mas diziam muito mais em tempos menos acelerados. O educador Tião Rocha conta que, no começo dos anos 70, o Projeto Rondon pousou num arraial do Norte de Minas onde viviam famílias de lavradores, padre, farmacêutico, funcionário do Correio e agente ferroviário. Médico? Só uma vez por mês. Naquelas profundezas do sertão, a trupe de enfermeiros, antropólogos e assistentes sociais se encantou com um velho caboclo. Misto de pajé e cacique, Galdino vivia solitário numa casinha de latão. Deitado na rede, ele meditava e dava conselhos a todos sobre tudo, desde como se trata umbigo de recém-nascido. Também fazia previsão meteorológica após checar a “testa da serra”. Vivia da venda de artesanato de barro extraído do chão da morada após a chuva, sem sequer se levantar. “Pra que ir até a vida se ela vem aqui?”, filosofava. O palavreado folclórico do ancião, entrelaçando repertório...

Pasta Joia Review - 28

Clarão misterioso  7 de dezembro de 2016   Após largar o seminário, Vicente Torres se converteu em homem da ciência, sem, no entanto, abandonar a sua fé. Passou a maior parte de sua longa e laboriosa vida em Ibirité, no cinturão verde da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Lá, ele cultivou carreira, família e gerações de admiradores. Meu tio-avô e guru confirmou com seus ensinamentos a vocação hortifrutigranjeira da cidade que o agraciou com o título de “professor” e onde é hoje nome de rua. Tio Vicente ensinava a todos como plantar hortaliças com técnicas precisas e adubo orgânico, sempre honrando a biodiversidade. Era o intelectual que conversava de igual para igual com analfabetos e um ecologista sem radicalismos. Cientista com calos nas mãos e dedos fincados na terra, o educador mineiro singrava os ares com os olhos. Por trás de severos óculos, a figura esbelta e intrépida do meu padrinho colecionou muitas histórias brotadas no convívio com lavradores. Minha ...

Pasta Joia Review - 27

Bar, doce bar  16 de dezembro de 2016 Ronda, de Paulo Vanzolini, é uma das minhas canções preferidas. Ela me transporta à época em que costumava atravessar a urbe, noite adentro, em busca de recantos boêmios para depois embarcar nos sonhos. Essa minha procura interminável passou pelo Mercado Municipal de Floripa, pela avenida São João de Sampa e, sobretudo, pelas ladeiras de BH. Na capital mineira, que “não tem mar, mas tem bar”, alcancei os círculos etílicos mais variados, as mesas mais sorridentes e os garçons mais amigões. Seja com o espírito em festa, seja com os cotovelos doloridos, foi na Belo Horizonte do século passado que encontrei recintos folclóricos para beber, comer e interagir com pessoas. São santuários de uma cultura tipicamente belo-horizontina. Pelo retrovisor de minhas jornadas noturnas enxergo endereços curiosos da capital mundial dos botecos, que espelhavam a personalidade dos donos. O Loureiro’s, da rua Java, no bairro Nova Suíssa, era o espaço criat...

Pasta Joia Review - 26

Pretinhos básicos  27 de dezembro de 2016 Há coisas que se consagram pela eficiência, pela simplicidade e pela praticidade no uso cotidiano. Quase sempre na cor preta, certos objetos presentes no passado de quem passou dos 40 se eternizaram nos corações e parecem pedir para voltar a fazer parte da vida dos seus donos. O exemplo mais clássico é, para as mulheres, o tal tubinho preto, aquele vestidinho coringa que derruba a dúvida cruel diante do espelho, instantes antes de sair para o compromisso noturno. Outro exemplo, agora para os homens, era o sapato preto 752 da Vulcabrás. Era o pretinho básico de todos nossos pés de garotos que estudavam no Colégio Padre Curvelo e, anos depois, no começo de nossas carreiras profissionais. Esse e seus equivalentes eram o calçado oficial para cerimônias. E para deixá-los bonitos e apropriados, graxa neles! Tinham de estar sempre limpos e brilhando. Podíamos até levá-los ao engraxate, geralmente associado ao barbeiro, mas também tí...

Pasta Joia Review - 25

Uma roseira chamada Hebe  3 de Fevereiro de 2017   Usei óculos 3D há 40 anos! Sim, foi com o estereoscópio de tia Hebe que experimentei a sensação visual de profundidade em superfícies planas, olhando pares idênticos de fotografias antigas de praças da Europa. As lentes centenárias da armação metálica, contornada por flores em relevo, me conduziam à imersão tridimensional preto e branco. Imagens sublimes, realidades virtuais e mundos distantes eram algumas das paixões da cândida dona do artefato. Em Curvelo, a irmã de minha avó materna dedicou a maior parte da sua longa vida à Igreja Católica, à família e às rosas – vegetais, artesanais e místicas. Modista e florista, Hebe rumou para a eternidade solteira e sem filhos, mas deixando extensa e primorosa obra em tecidos e fios. Costurando, tecendo e cultivando pétalas, ela aplacou persistente enxaqueca e um rosário de lágrimas vertidas após duas doloridas decepções amorosas colhidas nos tempos de moça. Mestra de frivoli...

Pasta Joia Review - 24

Fidelidade canina  13 de Fevereiro de 2017   Ouvi esta história triste numa fila de banco, lá na agência Savassi do então ABN Amro Real. Vou resumi-la a partir do relato que ouvi de um casal à minha frente. Seu Orlando era um paciente terminal. O câncer alojado em seu fígado estava em estágio avançado e ainda se espalhava. O fim de seu longo curso final era apenas uma questão de tempo. Pouco tempo. Meses, talvez semanas. Mas a maior tragédia para esse velho rabugento era saber que, embora viva rodeado de familiares – mulher e enteados –, não tinha deles qualquer carinho ou atenção. Esses gestos, justamente os mais valiosos em momentos como o que ele miseravelmente atravessava, não estavam presentes. Restava então remediar a dor com uísque, ao ritmo de uma garrafa a cada 12 horas. E o ancião alcoólatra só encontrava carinho e atenção verdadeiros e necessários nos seus quatro cães. A fidelidade canina foi o resquício de humanidade oferecido a esse pobre diabo branco. N...