Saudosas meninices

Sílvio Ribas Na pequena Curvelo dos anos 1970 e 1980, quando o tempo era mais lento e as vidas eram menos atribuladas, eu era um menino de pés descalços e cabeça cheia de ideias. Cada dia era dia de descobertas felizes em casa e nas ruas, com brinquedos brotando do improviso e da farta imaginação. Não havia limites para a fantasia: tudo ao redor podia virar qualquer coisa – e virava mesmo. A máquina de costura da minha mãe, com roda grande e barulhenta, se transformava em carro de corrida. Bastava girar o volante de ferro com as mãos para fazer curva na pista inventada da sala. E o chuveirinho do banheiro? Era meu microfone de superstar — e como a acústica do box ajudava! Cada banho era um show. Também molhado ficava no tanque de lavar roupa, gelado e fundo, imerso na imaginária banheira cinza de um hotel cinco estrelas, onde me refrescava e esquecia do mundo. Já o moedor de carne, com seu jeito assustador, assumia facilmente o posto de tiranossauro-rex, sempre à espreita no...