A piscina cintilante do Campestre
Havia para mim algo de hipnótico na superfície cintilante da grande piscina da sede campestre do Clube Recreativo Curvelano (CRC). Nos inesquecíveis anos 1980, o meu olhar adolescente mergulhava fundo nas ondas de luz daquelas águas límpidas, se afogando em imaginação e sonhos acordados.
Manhãs e tardes ensolaradas de sábado na minha pequena Curvelo (MG) convidavam jovens, adultos e crianças a viver horas alegres. As minhas eram lá no Campestre, a seis empoeirados quilômetros do centro da cidade. As imagens desse tempo e lugar ocupam cantinho especial do meu coração.
Detrás do salão de festas de piso taqueado e agito noturno despontava o piscinão da nossa casa de veraneio coletiva. Para chegar nela, virava atleta: saía bem cedo, correndo o trajeto como desafio pessoal de fim de semana. Na ida, ia embalado pelos cumprimentos nas ruas. Na volta, pedia carona.
A fitinha mensal de cartolina do CRC era a senha que autorizava acesso às unidades urbana e campestre, fora os convites preenchidos na secretaria. Os pequenos comprovantes carimbados e destacados eram enfiados nas carteirinhas do clube, verdes como a sua logomarca e os seus ambientes.
O cheiro do protetor solar, o burburinho de banhistas, o desfile de beldades com trajes mínimos e desenhos reluzentes no piso e nas paredes azuis da piscina me presenteavam como um pequeno espetáculo a céu aberto. Tudo embalado por Lulu Santos, Pepeu Gomes e Tunai nas caixinhas sonoras.
Pelas alamedas, caminhos de pedra e largos gramados, a diversão trafegava no seu vai-e-vem. O Campestre era a nossa praia, nem deserta e nem lotada. Além dos pulos ousados no espelho d’água, íamos às mesas de totó, pingue-pongue e jogo de cartas, à quadra poliesportiva, à sauna e à lanchonete.
Uma colega me recordou que o vestiário dos sócios e visitantes ficava abaixo do salão de festas. Lá pendurávamos nossos pertences de mão e as roupas em grandes sacolas de pano verde, presas aos seus respectivos cabides. A chave para retirada era uma pulseira elástica com placa de metal numerada.
Havia também as manias de época, como pedir ao piscineiro um pouco de cloro da piscina num potinho de margarina e levar para desbotar em casa calças jeans. Cada um criava seus próprios modelos — listras, manchas tortas e mãos abertas. Era como se fossemos divulgadores de nova moda.
As lembranças que calçam chinelos rider e vestem calção, sunga e camiseta regata me resgatam a felicidade genuína da amizade, vivida naqueles dias sob a sombra de árvores e quiosques de palha. Nosso bate-papo preguiçoso era regado a refrigerante e acabava no cair da tarde entoado pelos pardais.

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