Volta ao pátio da escola
Dizem que não se deve voltar ao lugar onde fomos felizes, sobretudo depois de muito tempo afastados dele. O risco da decepção é grande: paredes reformadas, espaços reinventados, pessoas ausentes. Melhor, então, deixar guardado o velho encantamento intacto, como quem conserva um relicário.
Ainda assim, resolvi revisitar um desses recantos. Não fisicamente, mas pelas janelas das redes sociais, onde surgem fotos antigas e recentes. Ao ver as imagens, a memória fez chamada em voz alta, presenteando-me com a vibração de décadas passadas, quando a campainha soava para o recreio.
O pátio da Escola Interventor Alcides Lins era o oásis pulsante dos nossos dias de estudante de primeiro grau. Nele, filas se formavam para entrar e sair, mas era sobretudo o palco da liberdade que tínhamos naquele nosso segundo lar na Curvelo (MG) quente e poeirenta dos anos 1970 e 1980.
Cada apelido, cada jeito de andar, cada risada alta era uma marca registrada da garotada. E naquele grande tablado de cimento, ligeiramente inclinado, éramos ainda mais autênticos por alguns minutos. Corríamos, gritávamos, inventávamos brincadeiras, digeríamos lanches e nutríamos paixões.
As disputas de pegador, as rodinhas de conversa, as amarelinhas riscadas no chão, as cordas a girar sem parar e até a grande mesa verde de pingue-pongue de alvenaria compunham as atrações da hora de intervalo. Não precisava de muito equipamento ou sofisticação para fazer ali ser especial.
Também ficaram gravados os joelhos ralados, a calça esgarçada numa queda, a frenética competição de patins, o aceno discreto das professoras nos observando do andar de cima, a merendeira esquecida e reencontrada no refeitório. Tudo lá era simples e pleno de sentido.
Era um cenário barulhento e, ao mesmo tempo, da mais pura inocência. As algazarras e os sussurros estavam ao lado dos primeiros sinais de amizade verdadeira e eterna, da cumplicidade silenciosa e até de alguns sentimentos emergentes que o nosso coraçãozinho de criança mal sabia nomear.
Hoje, passeio por lá apenas em pensamento. Guardo esse retrato com visão nítida dos seus detalhes, mas ainda sem desejo de a ele voltar de corpo presente. Sem dizer “presente”, como fazia na sala de aula. Prefiro tê-lo na memória, onde sons permanecem límpidos e as cores não desbotaram.

Comentários