A sabedoria do velho digitador
A analogia modernizada que proponho é
do velho digitador, sentado dia
nte de uma mesa de trabalho. No centro dela,
repousa o PC, computador pessoal — ferramenta e espelho da mente. À esquerda, a
fragmentadora, para desintegrar os rancores acumulados. E à direita, a
impressora, sempre pronta a materializar novos e ousados projetos.
Esse arranjo seria a nova viagem do viajante da era digital. O balanço do cavaleiro de outrora se traduziria agora na harmonia do operador do teclado. À esquerda, o depósito do que deve ser triturado e esquecido: dores, frustrações e culpas que pesam na consciência. À direita, as esperanças impressas, convidando a escrever capítulos da jornada.
Como o tropeiro mineiro desenhado por Camilo, o homem do século 21 também precisa dar boa medida aos dois lados da mesa. Se acumular papéis sem valor, vira prisioneiro do passado; se deixar de ter sonhos, perde o sentido. O segredo é o mesmo: tirar o que pesa de um lado e acrescentar o que falta do outro, para seguir em vertical equilíbrio.
E há, claro, os que já se evoluiu para o ambiente virtual, onde a sabedoria tropeira e a ergonomia digital se encontram. Há momentos de deletar — libertar-se do que não serve mais — e outros de salvar — preservar o que merece permanecer. No fim, seja nos alforjes ou nos arquivos do PC, a lição é eterna: a alma tem de seguir viajando.

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