Prego no chinelo

Brasileiro sempre inventa uma gambiarra. Desde a água e a energia elétrica que são desviadas por "gatos" até a prosaica tira de chinelo presa por um preguinho, são muitas as maneiras recorrentes de driblar as adversidades cotidianas. Os defensores dessa criatividade que chega aos balanços orçamentários do governo lembram que foi o famoso jogo de cintura dos cidadãos que nos trouxe até aqui sem guerras civis em escala nacional. Mas não há mais dúvida de que o improviso contrário ao bom senso e ao ordenamento legal precisa ser combatido a todo o momento para o país dar um passo adiante no rumo de indicadores sociais e econômicos invejáveis e consolidados. De que adianta ir às ruas pedir punição para os corruptos se DVDs piratas são vendidos no centro da cidade em pleno horário comercial? De que vale pedir melhorias na mobilidade urbana se estacionamos o carro em lugares proibidos e, pior, pagamos "tomadores de conta" para "organizar" a irregularidade? Clamamos por melhor assistência de saúde, mas prefeituras continuam despachando doentes para outras cidades. O círculo vicioso que começa na falta de alguma infraestrutura ou serviço público e a sacada para driblar essa escassez precisa ser quebrado em favor da cidadania. Temos uma chance histórica de, empurrados por uma juventude consciente e por outros tantos inflamados pela ira cívica, colocarmos as coisas nos devidos lugares. O prego no chinelo se arrasta por todo o canto, arranhando pisos, denunciando limitações a cada cruzada de pernas e, ainda, podendo ferir seu dono ou terceiros. Assim também é o que ocorre quando as instituições não ambicionam ser perenes, atravessando gerações, promovendo paz e justiça. Infelizmente, a ansiedade por respostas atropela iniciativas que levam a soluções permanentes e mais bem estruturadas. Bom exemplo para contrapor à visão de curto prazo e à ideia de urgência por algo melhor conspirar contra a conquista do excelente é o da urna eletrônica. Com planejamento e recursos independentes das canetadas do Executivo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conseguiu construir, criteriosamente e com toda a segurança, a máquina de votar mais moderna do mundo. Levou tempo e deu certo. Se arrumarmos a bagunça institucional do país com serenidade, cronograma e compromisso de ir até o fim, chegaremos lá sem precisar de plebiscitos. É óbvio que muitas coisas podem ser arrumadas de imediato, mas também é verdade que outras precisarão de décadas para ficar 100%. Fonte: Correio Braziliense de 11/07/2013

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