Efeito moral

Soa como eufemismo chamar as bombas que ainda são disparadas contra manifestantes do país como sendo de efeito moral. Mas nada mais preciso do que classificar da mesma forma as reações apressadas dos Três Poderes ao brado retumbante das ruas, particularmente às do Legislativo. O Congresso Nacional, sobretudo o Senado, entendeu muito bem quais são as insatisfações dos brasileiros endereçadas aos parlamentares. Os políticos sabem que a falta de transparência e o exercício do mandato em causa própria irritou a turba a ponto de não ser mais possível segurar a revolta. A mesma celeridade com que a chamada casa do povo tentou responder às pressões, até mesmo para garantir alguns dias de recesso neste mês, não foi acompanhada pelo Palácio do Planalto. A resposta dada pela presidente Dilma Rousseff — desenhada na forma de pactos genéricos que reciclam posições assumidas anteriormente e coroada com inesperado plebiscito sobre a reforma política — acabou dando margem a novos e justos questionamentos. Onde deveria figurar a apresentação de um plano para dar mais rigor aos gastos públicos e enxugar o número de cargos desnecessários, o governo determina a importação de médicos. Onde se esperava a implementação de verdadeira faxina na máquina federal, privilegiando o perfil técnico dos gestores, surge proposta de garantir verbas futuras para a educação. No momento em que todos cobram um gesto humilde de reconhecimento das mazelas nos serviços prestados pelo Estado, a presidente resume as faixas de populares na bandeira de novas regras para a eleição de 2014. É óbvio que os problemas brasileiros têm fundo estrutural e que a maneira como os dirigentes são eleitos está longe de ser perfeita. Também é evidente que
a corrupção, palavra que a presidente passou a falar, impera em razão das várias brechas existentes na República. Mas o moral incompreendido dessa história é que gestos simples — decretos, portarias e as mesmas votações relâmpagos no Parlamento — já seriam suficientes para colocar muita coisa em ordem e satisfazer a massa ainda insatisfeita. Enquanto os protestos vão se focando em temas específicos, o poder constituído tenta unificar a sua pauta naquilo que acha mais conclusivo. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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