A mulher de César

Sílvio Ribas Corrupção é uma palavra muito feia, daquelas que chegam a incomodar os ouvidos mais sensíveis. Apesar disso, corruptos e corruptores fazem parte de nossas conversas diárias, das capas dos jornais e, às vezes, do nosso convívio. Com tanto malfeito país afora, protagonizado por pessoas de todas as ideologias, os mais prudentes nos lembram de tomar sempre o cuidado para não generalizar a coisa. Eles temem que defensores do patrimônio público, jornalistas e outros atores independentes coloquem o rótulo de malfeitor em quem apenas exibe indícios de estar negligenciando a ética. Concordo que excessos podem até ocorrer de quem investiga ou apenas zela pelo interesse coletivo. Mas é bom ressaltar que o necessário cuidado para não atacar reputações com bases frágeis também não pode levar à inibição da não menos necessária vigilância republicana. Assim como ensina a máxima sobre o comportamento da mulher de César, não adianta mais às autoridades e aos agentes públicos apenas ser honestos. Eles também precisam parecer honestos. Por esse motivo é que a ampla transparência — causadora de escândalo poucas décadas atrás, quando associada ao vestiário feminino — deve ser uma regra em tudo o que envolve dinheiro do povo. Só a transparência e a apuração justa podem separar o joio da real improbidade daquilo que é somente desaconselhável. De toda forma, mais vale o rigor extremo do que uma explicação dada para tentar provar que o erro aparente não foge do aceitável. Bom exemplo foi dado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) quando governava seu estado. Diante da insistência feita por um comandante da polícia gaúcha da justeza de se promover um filho dele, apesar da subordinação hierárquica, Simon, que havia vetado a promoção, respondeu assim: “Então, é simples, renuncie você”. Pensar nas implicações de um ato até justo na essência, mas péssimo na aparência, poderia ter evitado muita saia justa e até CPIs. Não estou falando de erros grosseiros, como os linchamentos da Escola de Base e do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), mas dos imbróglios que tornaram a Força Aérea Brasileira (FAB) a agência de viagens oficiosa de autoridades e agregados. Ou de agentes usando carro oficial para uso pessoal apenas por achar que “não tinha nada a ver”.

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