Indústria cabocla 2

SÍLVIO RIBAS Enviado especial Itumbiara (GO) Quem chega à próspera Itumbiara, no Sul de Goiás, não tem dúvidas da importância do campo e da agroindústria para a economia local. Os gigantescos armazéns de grãos e as imponentes usinas de açúcar e álcool abraçam toda a cidade. No seu comércio local, as empresas dedicadas ao agronegócio parecem inspiradas na pujança do interior paulista e no Triângulo Mineiro mas ainda convivem com nomes nostálgicos, como Açougue do Careca e Alfaiataria do Bigode. É nesse cenário que o setor automotivo fincou recentemente uma bandeira e deverá impulsionar a tendência de diversificação da indústria no interior do país. A montadora japonesa Suzuki constrói a toque de caixa uma ampla unidade na cidade que representa o terceiro vértice do triângulo metal-mecânico de Goiás, juntamente com Anápolis e Catalão. Foram investidos R$ 150 milhões e a expectativa é que a mudança das instalações provisórias em Itumbiara para a definitiva, vizinha de grandes indústrias de alimentos, ocorra até janeiro. Nesse meio tempo, a empresa acena com a possibilidade de compartilhar a produção do veículo compacto 4x4 Jimny com a fábrica da Mitsubishi em Catalão (GO). As duas marcas são representadas no Brasil pelo grupo MMC, do empresário Eduardo Souza Ramos e do BTG Pactual. O primeiro lote de produção do modelo será de 250 unidades e a capacidade inicial será de 7 mil carros por ano, volume que poderá subir gradualmente. Procurada, a Suzuki não permitiu visita às suas instalações na cidade nem ofereceu porta-vozes, alegando compromissos operacionais. De olho na crescente procura por mão de obra qualificada e pelas oportunidades geradas pelos investimentos em ampliação e novas fábricas, os jovens do município do sul goiano, de 100 mil habitantes, procuram definir seus alvos profissionais desde cedo. São cursos práticos e objetivos, de seis meses em média, de segunda-feira a sábado, com cinco horas. “Escolhi o curso de redes porque é uma das opções para indústrias de ramos diferentes. Além disso, a formação técnica me garante inserção rápida no mercado profissional”, conta Eduardo Antônio de Souza Filho, de 17 anos. Aline Alves Fonseca, 21, e Gislaine Cantologo, 23, colegas da turma de produção industrial de açúcar e álcool, vinculado à uma grande empresa do setor, estão interessadas em ingressar em uma atividade já consolidada na região. “Não era bem o que queria, mas o emprego garantido me atraiu”, diz Aline. “Como tenho curso técnico nessa área pelo Instituto Federal de Goiás (IFG), queria continuar investindo nela. Pretendo ainda fazer engenharia química”, revela Gislaine. Diante da grande procura de empregadores e de candidatos a empregos garantidos nas grandes empresas do município, em boa parte multinacionais, a sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Indústria (Senai) contabiliza 6 mil matrículas, o dobro do último ano, enquanto amplia seu número de salas e convênios com empresas. “Praticamente todos os alunos saem daqui com emprego. Muitos começam admitidos pela indústria e vem para cá se habilitar para a função”, conta Claiton Cândido Vieira, diretor da escola. As áreas de açúcar e álcool e manutenção de máquinas agrícolas, além da educação de adultos, continuam sendo carro chefe da unidade, mas a indústria automotiva já recebeu novas salas e laboratórios. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), do governo federal, também abriu novas frentes de treinamento e qualificação, com auxílio de alimentação e transporte. Para dar conta da procura, o Senai goiano também investiu em três unidades móveis de solda, manutenção industrial e reparos em máquinas agrícolas. “Aqui só não trabalha quem não quer” é a frase mais ouvida em Itumbiara. Nos seus 21 anos de existência, a escola o Senai em Itumbiara coleciona prêmios internacionais de seus alunos. Entre eles, destaca-se o conquistado em 2009 pelo adolescente Rafael Soares Borges, ao ficar em terceiro lugar como melhor soldador do mundo, no torneio de formação profissional (Worldskills) realizado no Canadá. O ex-aluno é atualmente instrutor da unidade, com alunos de todas as idades. O próprio diretor, Claiton, também foi aluno e instrutor, tendo ganho o prêmio de melhor fresador mecânico do país, em 1998. O crescimento acelerado do setor automotivo em Goiás também está fomentando intercâmbios técnicos das escolas profissionais da cidade com instituições estrangeiras dedicadas à inovação tecnológica e ao desenho industrial. Entre as parcerias recentemente firmadas está a com o Instituto Meccano, sediado em Ancona, na Itália, que presta consultoria sobre como atrair novos fornecedores e ajustar o leque de produtos dos empreendimentos locais para as demandas das montadoras de automóveis instaladas no estado. Nesse sentido, a indústria de materiais plásticos avalia a possibilidade de produzir não apenas embalagens, mas também componentes para veículos da Suzuki, Mitsubshi e Hyundai. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é dos patrocinadores desses acordos de cooperação. Para técnicos do Instituto Mauro Borges, ligado ao governo goiano, as empresas do ramo metal-mecânico terão peso cada vez maior na estratégia do estado de diversificação da indústria. Fonte: Correio Braziliense de ontem

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