Malthus e além

Sílvio Ribas Poucas teorias econômicas geraram tanto comodismo quanto à forjada pelo britânico Thomas Malthus (1766-1834). Também nunca uma ideia foi tão desbancada pelos fatos como a dele. “Os meios de subsistência crescem aritmeticamente enquanto as populações crescem geometricamente”, era a frase célebre para resumir seu pensamento. O pai da demografia acreditava que barreiras às taxas de natalidade e à longevidade eram bem-vindas como forma de garantir certo equilíbrio entre a inevitável escassez de recursos e a expansão do contingente populacional. Corta para 2013. Duzentos anos depois dos ensaios malthusianos, temos um admirável mundo novo que teima em desmentir o apocalipse econômico, com seus 7 bilhões de habitantes e a ascensão generalizada da classe média nos países até então periféricos. A fome e o desemprego continuam presentes e ainda se somam ao risco de uma exaustão dos bens naturais caso o consumo desenfreado não seja contido. Mas os efeitos benéficos da revolução tecnológica iniciada na segunda metade do século passado, sobretudo na produção de alimentos e na crescente expectativa de vida, provaram que a mobilidade das forças capitalistas vai além de qualquer fatalismo. Se tempo é dinheiro, para certos mercados a existência de importantes “estoque de pessoas” passou a ser diferencial estratégico, caso exemplar da China, país com 1,3 bilhão de indivíduos e segunda maior economia do planeta. Cuba, por sua vez, forma milhares de médicos como bens exportáveis. Por seu lado, a queda na taxa de fecundidade das famílias, sobretudo nas grandes cidades, está “envelhecendo” o povo de importantes potências industrializadas, como as da Europa e do Japão, a ponto de isso se tornar um limitador do progresso. O encolhimento das camadas jovens estreita o futuro de mercados nacionais e desafia os serviços de saúde e previdência. Países como o Brasil começam a sentir os efeitos da mudança de perfil demográfico. Não é por outra razão que o governo chinês começa a flexibilizar sua duríssima política de filho único, e políticos do primeiríssimo mundo começam a ver na imigração e nos novos arranjos familiares fator de crescimento econômico mais adiante. Transversalmente a todos esses cenários, sobressai uma “verdade” mais sustentável que a “verdade” de Malthus: investir nos recursos humanos garante ciclos virtuosos mais largos e de escala verdadeiramente revolucionária. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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