De yuppie a excluído

Por Silvio Ribas
Meu jovem, aproveite a vida porque você tem o mundo inteiro pela frente. Além do mais, você tem a vantagem mais cobiçada pelas pessoas que batalham no mercado de trabalho: futuro. É com essa mensagem que tento desarmar as ansiedades e as irritações de profissionais em início de carreira quando sou consultado por algum deles. Peço que lutem pelos seus sonhos, se apaixonem pela sua profissão e, pelo amor de Deus, não gastem energia demais com as pequenas frustrações rotineiras no horário de expediente. Entretanto, meu discurso de animador de auditório vem trombando com uma radical mudança de realidade social, econômica e demográfica, em curso desde os anos 1980. Naqueles tempos de estagnação brasileira, de intimidade com a inflação e de transição no plano global do auge da guerra fria para completo desmantelamento dela, os jovens protestavam como podiam. Mas também disputavam todas as chances de vencer na vida com entusiasmo e as regras do momento. Foi naquela criativa década que o incentivo ao capital especulativo criou a figura dos yuppies, que nada tinha a ver com a a interjeição iúpi! A derivação da sigla em inglês YUP, de jovem profissional urbano (young urban professional), rotulava os mauricinhos engravatados em escritórios de grandes cidades, que se embrenhavam na selva de pedra para fazer o seu primeiro US$ 1 milhão o mais rápido possível, como um Eike Batista em começo de caminhada. Com o período de pouco mais de uma geração, a paisagem é outra, bem diferente. Ainda nos inspiramos no exemplo de gênios inovadores da informática e da internet, que fizeram seus primeiros bilhões de dólares em prazo curtíssimo. Todo dia tem notícia de adolescentes vendendo ideias a empresas por boa grana. A realidade do trabalhador jovem em escala mundial nunca foi, contudo, tão preocupante quanto agora. Mesmo que exista o conceito de pós-yuppies, os que querem transgredir sem agredir e gastar sem culpa o que ganham, com um pé na contracultura dos anos 1960 e outro no capitalismo selvagem dos anos 1980 e 1990, o desemprego assusta. O papa Francisco alertou semana passada para o drama do desemprego jovem, sobretudo dos europeus. Sem explicitar o país, citou os casos de Espanha e Grécia, onde o desemprego geral varia de 25% a 30% da população, mas para os mais novos passa de 50%. A saída é combinar educação com oportunidade. Fonte: Correio Braziliense de 01/08/2013

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