Pontos-fortes da crise dos combustíveis


Sílvio Ribas

1)    O governo federal foi imprevidente ao ignorar os alertas dados pelos caminhoneiros e outros setores sobre os riscos da escalada dos preços do diesel. Previu pagar para ver e perdeu feio, indo à lona em apenas três dias, correndo atrás do crescente prejuízo.

2)    Oposição e governo, ambos lados sob o efeito do período pré-eleitoral, criticaram duramente o presidente Temer e a Petrobras pela crise, marcada pelo desabastecimento e pela elevação dos preços de combustíveis e alimentos.

3)    Categoria ainda organizada de forma confusa e marginal, os caminhoneiros mostram excepcional força devido à anacrônica dependência brasileira da logística rodoviária de cargas. Mais de 60% de tudo que é vendido no país passa pelas estradas. São 2 milhões de profissionais do volante que mostram poder de mobilização em redes superior ao sindicalismo histórico.

4)    O óbvio é que a Petrobras está praticando a melhor política possível para consolidar a sua reestruturação financeira após ser destruída pelas gestões petistas com corrupção e com o congelamento político de preços nas refinarias (dezenas de bilhões de reais de perdas absorvidas pela estatal). Mas faltou alguma flexibilização para não fazer repasses automáticos e tentar equacionar eventual redução de carga tributária.

5)    Eletricidade, telefonia e combustíveis são as principais fontes de arrecadação de receitas dos estados, que estão em gravíssima crise financeira, com salários atrasados e endividamento crescente. Mexer no ICMS é uma questão complicadíssima agora.

6)    A tragédia está feita e é fundamental que todos os lados cedam um pouco e que Legislativo e Executivo combinem suas ações para dar uma resposta rápida e consistente, capaz de encerrar a greve e virar o disco.

7)    As filas quilométricas nos postos de gasolina na manhã de hoje e a aflição dos parlamentares de Brasília com a possibilidade de não ter voos para retornar aos seus estados descrevem com clareza o nível de caos e desassossego da população.

8)    Se a condução da crise não for feita direito, a coisa pode ficar ainda mais feia. A Petrobras não pode explicitar ingerência política nas suas tabelas de preços pois corre risco de perder credibilidade do mercado, afetando a percepção de compromisso fiscal do governo, pressionado o câmbio e, por tabela, deixando combustíveis mais caras.

9)    O Rio Grande do Sul é o estado com mais caminhoneiros e, potencialmente, um dos mais afetados pela disparada do diesel. E é justamente a unidade da Federação com menos espaço fiscal para desonerar o diesel.

10)                     A desoneração da folha de pagamentos é uma medida óbvia para a política de reequilíbrio fiscal da União. Mas pode ser politicamente negativa em razão do elevado número de desempregados. Na prática, esse incentivo não gerou empregos no período que foi adotado e só piorou a situação da Previdência.

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