Mensagem de minha vó paterna

Walmiro, meu marido


por Maria da Conceição Moreira de Sousa (Dona Sinhá)

Vou ver se consigo contar resumidamente o que foi a vida de meu marido, Walmiro de Sousa. Nascemos no mesmo lugar, hoje Conselheiro Mata (MG), e no mesmo ano, 1913. Ele nasceu no dia 10 de agosto. Sua infância foi a de um menino normal. Muito inteligente, desde cedo já gostava de obter suas próprias coisas. Tinha visão e ideias para o futuro. Seu pai, Beraldo de Sousa, era funcionário da antiga ferrovia Vitória-Minas, mais tarde E.F.C.B, como agente de estação. Sua mãe, dona Violeta, era dona de casa, mulher religiosa e de grande fé.

A família constava ao todo nove irmãos. Anos mais tarde, seu pai se mudou com a família para Monjolos, um lugarejo próximo que naquela época explorava madeira. Foi ali que Walmiro entrou para a escola onde freqüentou até o terceiro ano (a última série que havia nas escolas rurais). Empregou-se num armazém onde se demorou pouco, pois visava ter um negócio só seu. Seu objetivo era, a princípio, ter um cavalo. Mas começou adquirindo um carneiro. Ia montado nele pelas roças a comprar e vender ovos. Era sua grande alegria.

Daí começou o troca-troca, comprando uma coisa hoje e outra amanhã. Seu espírito negociador andava pela “Mata” a levar cal e comprar café. Ele adquiriu logo, logo, uma tropa de burros, seu sonho maior. Passou então a viajar, comprando e vendendo lotes de burros. Como a mãe se preocupava muito com essas viagens, Walmiro resolveu mudar de profissão, arrendando um terreno. Estava resolvido a cuidar de lavoura e a engordar porcos.

Tão logo reuniu condições, comprou uma terra. Estava então com 19 anos quando resolveu se casar. Embora fôssemos do mesmo lugar, não nos conhecíamos. Só viemos a nos encontrar em Monjolos, onde vim passar uns tempos com meu irmão. Ele instalara ali uma farmácia e mais tarde (1933) se casou com uma irmã de Walmiro. No ano seguinte ao casamento de nossos irmãos ele também me pediu em casamento.

Nos casamos no ano seguinte, no dia 30 de junho de 1934. Ainda não havíamos completado 21 anos. Fiquei morando em Monjolos enquanto ele cuidava da lavoura. Quando nasceu nosso primeiro filho, Márcio, em 1935, nos mudamos para a roça, onde fiquei um ano. Walmiro estava sempre negociando, sempre comprando umas vaquinhas...

Havia perto uma vila chamada São José dos Altos, onde Walmiro abriu um pequeno armazém, que devagar foi prosperando. Aí nasceu Marcílio, o segundo filho. Mais adiante ele comprou outra propriedade, maior, no qual moramos uns anos. Nesse período, meu marido viajava muito, tratando de seus negócios e eu ficava em casa a cuidar de tudo, já com mais filhos: Walmira (Mirinha), Maurílio, Violeta, Marília e Mauro, todos nascidos nesse lugar.

Com grande sacrifício Walmiro comprou uma área onde havia muita madeira de lei, pagando por ela com a mesma madeira. Os meninos já estavam precisando estudar. Tínhamos que mandá-los para casa dos avós e tios em Monjolos para fazerem o primário.

Tempos depois adoeci com um reumatismo rebelde que nunca consegui curar, não faltando recursos possíveis para tal. Mudamos para a fazenda chamada Gameleira onde construímos uma casa grande, casa de colonos, dois moinhos de fubá, currais, casa de tirar leite, paiol, entre outras coisas. Mais tarde veio a fábrica de rapadura e depois a de cachaça, esta de boa qualidade e muito procurada. Na Gameleira nasceram três filhos: Marta, Conceição e o caçula Marcelo.

Quando os meninos já precisavam de colégio, compramos uma casa em Sete Lagoas (MG), onde ficamos uns tempos: eles estudando e eu tratando o reumatismo, que acabou me pondo numa cadeira de rodas. Walmiro tudo fazia por mim, os maiores sacrifícios, foi uma dedicação sem medir esforços para me aliviar.

Com o passar do tempo, nossos filhos foram seguindo suas profissões. O mais velho se formou em Direito, Maurílio em Contabilidade e os demais quiseram seguir os passos do pai na pecuária. Das meninas, duas se formaram para professora e três se dedicaram a outros trabalhos.

De Sete Lagoas resolvemos voltar para a Gameleira onde ele dedicava a criação de vacas e engorda de bois. A família era o seu orgulho. Ajudava os filhos logo que começavam a se casar, os orientava em tudo e Deus ajudou tanto que todos se encaminharam. Sentindo-se já fatigado e precisando de descanso, resolveu voltar para Sete Lagoas. Lá comprou uma casa. Passávamos uns tempos nela e outros na fazenda.

A capela de Conselheiro Mata estava muito deteriorada e Walmiro mandou fazer uma reforma geral, deixando ela muito bonita. Mostrou sempre o desejo de que, quando falecesse, fosse enterrado em Conselheiro. Muito caridoso, ajudava muito as pessoas necessitadas. Quando a saúde começou a ficar abalada, se dedicava por inteiro aos netos, queria-os sempre perto deles. Ultimamente vivíamos um pelo outro. Seu mal foi se agravando. Nós já tínhamos consciência da gravidade. Ele não queria morrer para deixar a mim, os filhos e os netos.

A nossa dor foi e é grande demais. A lembrança não nos deixa esquecê-lo um só instante. Sua morte foi em Curvelo (MG), mas foi sepultado em Conselheiro Mata, com grande acompanhamento. Isso foi em 20 de outubro de 1985. Ainda continuo na nossa Gameleira, onde tenho ainda a impressão de estar sempre perto dele. Até mesmo enquanto escrevo essa mensagem.

Que Deus, na sua Santa Glória, o tenha e nos conduza na Terra.

Maria da Conceição Moreira de Sousa (Dona Sinhá)
(30.11.13 a 30.11.88)

Walmiro de Sousa
(10.08.13 a 11.10.85)

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