Triscaidecafobia

Só este título dá arrepios. Triscaidecafobia é o nome científico para a aversão ao número 13. Trata-se de uma fobia muito comum nos Estados Unidos. Lá, construtores chegam até a omitir o fatídico andar no painel do elevador do arranha-céu. Passam do 12º direto para o 14º. Pincei esse e outros verbetes duma interessante reportagem de capa da Time. A revista pousou nas minhas mãos durante um vôo de Curitiba para São Paulo – a propósito, saiba que não tenho o famoso medo de Oscar Niemeyer e BB King, aquele cantado em verso pelo latino-americano Belchior: o de avião. A lista da publicação nova-iorquina traz ainda mais curiosidades ao me fazer recordar personagens movidos ou descritos por suas fobias.

Ablutofobia, por exemplo, é a doença psíquica do Cascão, personagem de Maurício de Sousa, o Walt Disney brasileiro. O menino sujinho que não gosta de tomar banho treme e se assusta só de ver água. Até o imortal Drácula, o famoso conde vampiro, sofre de mais de uma repulsa: alliumfobia (alho), heliofobia ou fotofobia (sol) e staurofobia (crucifixo). O vertiginoso medo de alturas determina a figura central do filme clássico de suspense Um Corpo que Cai, do mestre britânico Alfred Hitchcok. Igual mal padece o príncipe encantado encarnado por Richard Gere em Uma Bela Mulher. Há ainda um longa-metragem com título explicitamente alusivo a um medo atávico, o Aracnofobia, com ataques de aranhas.

Os traumas geradores de fobias podem, aliás, ser revelados e reciclados facilmente ou não. Em alguns casos, chega a custar horas de psicanálise, hipnose e outras terapias. Há inclusive profissionais que atribuam algumas aversões crônicas a causas ocorridas em vidas pregressas e acolhidas pelo inconsciente. Crenças e especulações à parte, o fato é que dezenas de fobiazinhas de milhões ajudam alguns poucos a ganharem milhões. Desde o detetizador chamado às pressas no meio da noite para restaurar a posse de um lar tomado por uma única barata até os tratamentos mirabolantes a que se sujeitam as vítimas da falacrofobia, o horror que se tem por estar ficando careca.

Na mesma relação da Time encontro algumas repulsas incontroláveis que também soam hilárias, como a alectorofobia (galináceos), coulrofobia (palhaços) e a fobofobia, em outras palavras a fobia da fobia. O medo de se apaixonar, por exemplo, tem o aliterado nome de filofobia. Para os que sentem aquela compulsão por limpeza, podemos achar que convivem com a rupofobia, pois sentem calafrios ao pensar em encarar a sujeira. Ah! Tem ainda quem não suporta parentes. Ele já pode se considerar um singenesofóbo, caso consiga pronunciar em pouco tempo e com rapidez o nome de sua aflição.

Mas nem tudo é estranho no terreno dessas síndromes contra símbolos, coisas ou conceitos. Nos são familiares alguns termos que fomos obrigados a decorar na escola, para exames do primeiro grau. Exemplos? Quem não se lembra do agorafobia, um exemplo clássico de prefixo (agora, praças ou locais abertos e públicos) e sufixo (fobia)? Hidrófobo é outro jeito de se denominar quem contraiu a doença da raiva.

Outras classificações de fobias tornaram-se conhecidas por expressões usadas na literatura ou para descrever posições políticas e sociais, como os xenófobos, quando o indivíduo tem aversão por estrangeiros, e a claustrofobia, aquele mais-que-desconforto em lugares apertados, como túneis e celas de prisão. Só uma maridofobia (trocadilho meu) ou o medo das reações da homofobia manteria quieto no armário, respectivamente, um claustrofóbico ou um homossexual. Embora o nome não seja tão conhecido, muitos manifestam sintomas da odontofobia, o medo do motorzinho do dentista.

Parece haver mesmo fobia pra todo gosto. Desde a de quem rejeita usar roupas (vestifobia) ao avesso à nudez (gimnofobia). Do que se afugenta ao ver mulher feia (cacofobia) ao que não suporta se aproximar de beldades (caliginefobia). Será que agora terei fobofobia? Qual é a sua? Se você chegou até essa linha do texto é porque não tem fobia de almanaque.

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