Pierrô hiper-realista

Por Sílvio Ribas Incumbido de reconquistar a confiança do investidor privado e, ao mesmo tempo, reequilibrar as contas públicas, o ministro da Fazenda Joaquim Levy tem procurado agir e se expressar da forma mais objetiva e serena possível. Em vez de declarações recheadas de promessas irrealizáveis e de recados a adversários, como fazia seu antecessor, Guido Mantega, ele prefere traçar metas gerais e apresentar sem rodeios ao contribuinte uma fatura proporcional ao estrago deixado pelo primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. O chefe da equipe econômica busca ser comedido e direto no discurso e nas atitudes cotidianas porque sabe que tem pouco tempo pra arrumar a gigantesca bagunça que encontrou. Além disso, ele sabe bem que as medidas impopulares para desfazer o caos econômico produzem um desgaste político enorme, ainda mais para um governo eleito e reeleito pela bandeira do combate à austeridade. De alegria contida, quase um Pierrô, Levy desbota sem dó o cenário colorido pintado pelo Planalto nos últimos anos para mostrar o hiper-realista retrato em preto e branco da recessão com carestia. Mesmo durante o carnaval, quando a realidade é convidada a sair de cena para abrir alas à irreverência e ao surreal, o gosto amargo dos ajustes na economia, agravado pelas notícias de corrupção bilionária na Petrobras, está presente. Foliões fazem piada com os preços mais salgados para encher o tanque do carro, zombam das contradições de Dilma e ironizam as perspectivas de mais aperto no bolso e de desemprego. O protesto bem-humorado dos blocos carnavalescos lembra também das ameaças de apagões e de cortes de água nas três maiores metrópoles do país. A multidão trocou o panelaço pelo deboche aos governantes. Com a popularidade em queda logo no seu começo, o segundo mandato Dilma Rousseff já perdeu influência no Legislativo e os balanços que ainda chegam de 2014 trazem prejuízos superiores aos estimados. Para os milhões de palhaços tristes da folia não basta mais o amor da Colombina para tudo ficar bem. Eles querem alguma punição para o Arlequim e o fim de toda a ingenuidade. Os Pierrôs e Pierretes não parecem mais bobos, lunáticos e inconscientes da realidade. Mas talvez tenham acordado tarde demais no meio da festa popular. Protex Fiel à tarefa de expor as vísceras da balbúrdia fiscal e de outros pecados contra a estabilidade econômica, os relatórios do Banco Central (BC) analisam a conjuntura de modo a respaldar decisões sobre a Selic. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros de 11,75% para 12,25% ao ano, é uma boa amostra de abordagem nua e crua da inflação. “Os choques identificados, e seus impactos, foram reavaliados conforme o novo conjunto de informações disponível”, afirma a diretoria do BC. Em outras palavras, o texto escrito de forma sofisticada, avisa que os preços até então represados estão agora soltos e botando mais lenha na fogueira dos custos gerais. A projeção de alta dos preços administrados subiu para 9,3% em 2015, quando na reunião de dezembro era de só 6%. Em seus cálculos, o Copom considera a elevação de 8% no preço da gasolina, de 3% no preço do gás de cozinha e de 27,6% nos preços da energia elétrica, entre outros. Em temos de reinado de Momo, não resisti à tentação de associar o fato hiper-realista ao velho bordão do comercial de certa linha de cosméticos infantis, que dizia “Pom Pom com protex protege o neném”. A mensagem da autoridade monetária seria quase igual: “Copom com protex (leia-se vigilância) protege o real”. Será que consegue? Fazenda e do Planejamento. “Especificamente sobre o combate à inflação, o Comitê destaca que a literatura e as melhores práticas internacionais recomendam um desenho de política fiscal consistente e sustentável, de modo a permitir que as ações de política monetária sejam plenamente transmitidas aos preços”. Em outras palavras, a política de juros deixou de ser arma isolada. O BC já não se sente enxugando gelo. Lula escolheu Dilma para manter aquecida a cadeira que foi dele durante oito anos. Mas o que a elegeu foi a satisfação da maioria dos brasileiros com os resultados da economia. Mais dinheiro no bolso e mais crédito na praça desidratam escândalos, desmoralizam a moral e fazem tábula rasa da ética. É assim, infelizmente. E como é que essa senhora, que por tantos anos celebrou o crescimento do Produto Interno Bruto(PIB), o indicador do conjunto de riquezas do país; como é que ela, ao ver o PIB ladeira a baixo, comete o atrevimento de dizer que o PIB não tem lá essa importância toda, importante é como cuidamos das nossas crianças e adolescentes? Quer dizer: Pibão vale. Merece ser reverenciado. E por causa dele cabe acicatar os desafetos políticos. Pibinho não vale. Entra em cena o vinde a mim as criancinhas! Para quê? Para serem mais bem alimentadas com menos recursos? Fonte: coluna Correio Econômico, do Correio Braziliense, de hoje

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