Do poço ao posto

Por Sílvio Ribas O angustiante noticiário econômico do começo de ano foi além do previsto, com 2015 revelando faturas ainda mais salgadas. Mas a cada anúncio de rombo nas contas nacionais, de calibragem de impostos e de prejuízo bilionário gerado pelos malfeitos na Petrobras, cresce a certeza de que as causas do nosso suplício podem ser resumidas numa só: o patrimonialismo. A velha e enraizada mazela brasileira confina o espírito republicano aos discursos vazios de autoridades, promove ousados crimes contra o patrimônio público e ainda nos açoita com carestia e subdesenvolvimento. Nunca antes na história deste país, a soma das ganâncias de empresários e políticos, que se revezam no papel de corruptos e de corruptores, produziu tanta manchete de jornal. No que se refere à Petrobras, a desenvoltura das parcerias público-privadas espúrias ao longo dos últimos anos coloca em dúvida os sistemas de controle. E a sua dissecação à luz dos fatos deixa muitos cidadãos honestos desalentados. Já defendi neste espaço que a maior empresa nacional seja reduzida no escopo de atuação, focando-se naquilo para que foi criada: a produção de petróleo e gás, em busca da tão sonhada autossuficiência energética. A cauda muito longa do Grupo Petrobras - do poço ao posto -, como a sua publicidade institucional gosta de ressaltar, desvirtua prioridades e, o mais lamentável de tudo, abre milhares de escaninhos para a corrupção se alojar. Para piorar, os patrimonialistas têm avançado desde a última década graças aos pedágios cobrados do Planalto pelo condomínio partidário do Congresso em nome da governabilidade. A coalizão que a presidente Dilma Rousseff tanto evoca não está assentada em ideais nobres, mas em esquemas para colocar recursos da nação no bolso de larápios de gravata. A privatização maligna corrompe até as bases da política econômica. Custos da corrupção e concessões a interesses isolados levam, sim, à gasolina mais cara, ao atraso de obras essenciais e ao arrocho salarial. Não por acaso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu explicitamente o fim do patrimonialismo no discurso de posse, que completa hoje um mês. "A antítese do sistema patrimonialista é a impessoalidade nos negócios do Estado, nas relações econômicas e na provisão de bens públicos, incluindo os sociais. Ela fixa parâmetros, protegendo o bem comum", resumiu. É o que manda a Constituição. Fonte: Correio Braziliense de hoje, página de opinião

Comentários