Saída norte

Por Sílvio Ribas A presidente Dilma Rousseff e os seus auxiliares têm deixado transparecer algo que poderá se confirmar na próxima mudança radical de rumos no segundo mandato dela em relação ao primeiro. Depois de colocar um economista de perfil ortodoxo no Ministério da Fazenda, para restaurar o equilíbrio das contas públicas e a credibilidade do país nos mercados financeiros, o próximo gesto ousado do Planalto deve envolver os Estados Unidos. Razões muito concretas e objetivas apontam para a necessidade da reconstrução da normalidade nas relações bilaterais, prejudicadas pelas rusgas diplomáticas, e, mais do que isso, aprofundar acordos com foco no aumento das exportações brasileiras para o maior mercado consumidor do planeta. O momento não poderia ser mais desejável para isso, com a locomotiva chinesa perdendo fôlego e os dois principais importadores do país na região, Argentina e Venezuela, em grave crise. O recuo nas cotações dos preços de matérias-primas, carro chefe das vendas externas do país, sobretudo minério de ferro e soja, deixou evidente a fraqueza de competitividade dos manufaturados made in Brazil. A simbiose entre os parques automotivos brasileiro e argentino tolheu a já insignificante presença deles no exterior. Por fim, dificuldades criadas pelo Mercosul para se firmar acordos comerciais tiraram tempo e dinheiro preciosos enquanto a competição internacional se acirrava. O resultado combinado de todos esses fatores negativos, incluindo o crescente Custo Brasil, foi uma forte retração nas exportações, levando o saldo da balança comercial registrar deficit de US$ 2,35 bilhões em novembro. O resultado divulgado semana passada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) foi o pior da história para o mês e o maior rombo mensal em 2014. Em paralelo, os indicadores norte-americanos de atividade econômica sinalizam melhora, a tão esperada retomada com efeitos positivos para quase todos os seus parceiros. Não é por acaso que Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm repetido nas entrevistas mais recentes que depositam as suas esperanças de saída do atoleiro do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos graças, essencialmente, ao desempenho da maior economia global. Brasil e EUA - os dois maiores produtores de alimentos do mundo - têm mesmo é nos produtos industriais as melhores oportunidades de trocas comerciais. A fábricas brasileiras sempre conseguiram fornecer às prateleiras norte-americanas e os seus executivos rezam todo dia para que o país mereça mecanismos de preferência do Tio Sam. A estagnação da indústria convenceu Dilma da urgência de acertar ponteiros com o colega Barack Obama, o que deve ocorrer numa viagem de Estado dela aos EUA, no ano que vem. De volta ao posto de maior importador do Brasil, com destaque para produtos mais sofisticados, os EUA podem ser a saída para amenizar os vexames na balança comercial e, por tabela, dos rombos das contas externas. O ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, revelou ao Correio que a reconquista do bom fluxo bilateral com o mercado norte-americano como é um alvo estratégico do governo a partir de 2015. Seu sucessor, o senador pernambucano Armando Monteiro (PTB), declarou na segunda-feira, logo após ser confirmado como novo titular da pasta, que seu maior desafio é tornar os manufaturados brasileiros mais competitivos. Com a experiência de oito anos à frente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sabe muito bem onde o calo aperta. Fonte: Correio Econômico/Correio Braziliense de hoje

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