Mestre Miura

Por Sílvio Ribas
A irresponsabilidade fiscal faz o mato tomar conta das calçadas, os delatores contam à Justiça detalhes sórdidos da corrupção na Petrobras e adolescentes criminosos gravam em celulares os cruéis assassinatos que praticam. Nosso cotidiano está marcado pelo pior lado das pessoas, no qual o apreço pela coletividade, a honradez e o respeito à vida inexistem. Em meio a tantos motivos para o desânimo e para se redobrar as orações por dias alentadores, ainda há figuras emblemáticas de Brasília que precisam ser exaltadas, até mesmo para servir de contraponto a tudo aquilo que a maioria da população repele. Sinônimo de judô na capital, Takeshi Miura é um dos campeões locais do bom exemplo. O Sensei – palavra japonesa para mestre e forma como é chamado pelos seus pares e amigos no esporte – está no Distrito Federal há 50 dos seus recém-completados 72 anos. Em sua vida repleta de prêmios e de admiradores, ele procura sempre promover não só a arte marcial, mas, sobretudo, valores. A celebração da família, o cultivo da amizade, a humildade e a atenção ao bem-estar estão entre as mensagens levadas aos alunos de todas as idades. Também não deixa de passar ensinamentos sobre porque cuidar da natureza e da coisa pública. Miura participou em setembro do sexto campeonato mundial de veteranos do judô, na Espanha. Não trouxe de lá títulos, mas uma inspiração extra aos que o conhece. “Meu desejo era mostrar ao pessoal mais maduro que nunca é tarde para se colocar em movimento, se cuidar e encarar novos objetivos. Acho que consegui”, revela o Sensei, com seu inseparável sorriso. Para os mais jovens, desde os meninos e meninas de quatro anos, ele faz questão de reforçar a educação do lar, cobrando deles alimentação saudável, hábitos de higiene, amor à escola e zelo dos filhos pelos pais. A milenar sabedoria nipônica e a honra dos tatames não explicam todo esse brilho do brasiliense nascido em Cafelândia (SP). O vencedor dos jogos pan-americanos de 1967, em Winnipeg, no Canadá, também é um ser humano faixa preta e um cidadão de glória olímpica. A simplicidade de sua academia na Asa Sul, ponto de referência de judocas do país e do exterior, contrasta com a riqueza das lições de disciplina, de tolerância e de afeto dos mestres de lá. Para eles, a obediência à filosofia onde todos sempre aprendem e ensinam não está desacompanhada do empenho em prol da felicidade alheia. Arigatô gozaimasu! Fonte: Correio Braziliense de hoje

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