Um novo ciclo

Os brasileiros consagram hoje 25 anos de plena democracia, manifestando o seu desejo em torno dos destinos da República. As tensões provocadas pelos embates ao longo da jornada dos presidenciáveis ficam pequenas diante do gozo da liberdade dos cidadãos escolherem. O direito de votar também sempre virá acompanhado da premissa de que ele será exercido com consciência e responsabilidade, pautado pelo interesse nacional, em favor da maioria. As instituições democráticas passarão por novo teste, com a esperança de que ele as aprimore e fortaleça. De toda forma, a vontade popular encerrará hoje um ciclo e abrirá outro. Um ano inteiramente novo vai surgir amanhã, um dia após o segundo turno das eleições presidenciais e da divulgação do seu resultado. Seja lá qual for o nome eleito pelos 140 milhões de eleitores para governar o país no período de 2015 a 2018, a vida nacional retomará o seu curso normal neste resto de novembro, mas sob novos ares. Mesmo com eventuais resquícios amargos de uma disputa acirrada entre governo e oposição, a agenda que vai ser colada ao calendário regular é a mesma colocada em suspensão e cobrada pelas dificuldades econômicas brasileiras e internacionais. Tanto o grupo vencedor das urnas quanto o derrotado classificaram 2014 como um ano atípico, marcado pela corrida ao Planalto, inaugurada com antecedência ainda maior que nos pleitos anteriores. O Congresso Nacional funcionou este ano de forma bem menos produtiva do que o esperado em anos de campanha dos parlamentares candidatos. Todo o governo, por sua vez, se dedicou prioritariamente à reeleição e encontrou obstáculos para cumprir a maior parte de suas metas ainda no primeiro trimestre, antes de ser engolfado pelas limitações da legislação eleitoral. Para completar, em junho e julho, a realização da Copa do Mundo de futebol capturou a atenção geral e trouxe consigo tensões extras em torno de sua realização. Baixada a lona do circo eleitoral, o ano a se iniciar virtualmente nos momentos finais de 2014 e continua em 2015 poderá trazer surpresas para os que não conseguiam enxergar o contexto por detrás dos acontecimentos registrados até agora. Limitado pelas suas preocupações meramente eleitoreiras, o governo preferiu adiar decisões e recorrer a improvisos para lidar com problemas concretos, como o colapso financeiro do setor elétrico, o descontrole da inflação, a queda nas taxas de investimento na produção, a piora dos saldos da balança comercial, o estreitamento das margens fiscais, entre outros. O passivo gerado pela sobreposição dos palanques à missão de governar pode ser resumido num nível de confiança tão baixo de empresários e de consumidores a ponto de estagnar a atividade econômica. Como um termômetro calçado na racionalidade dos números e na especulação em torno do futuro, o mercado financeiro do país oscilou este ano, sobretudo ao longo do período pré-eleitoral, chegando à véspera do último escrutínio num ponto em que todas as expectativas diante dos cenários possíveis confluíram a um retrato mais concreto. É possível haver novas correções de agora em diante, todas vindas de novas notícias em torno de nomes da próxima equipe governamental e de decisões a serem tomadas diante o novo contexto. Feliz ano novo.

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