Seca sufoca setor elétrico

Por Sílvio Ribas A perspectiva de secas mais longas e atrasos na estreia do período chuvoso pressiona o preço da eletricidade negociados no mercado livre e desafia a gestão do abastecimento no país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu a sua estimativa de chuvas que chegarão aos reservatórios das hidrelétricas neste mês, para patamares bem abaixo da média histórica, em todas as regiões, exceto o Sul. A estiagem do ano passado já levou as represas os menores níveis desde 2001, ano do racionamento. Mas as projeções apontam para um quadro ainda pior aos da crise de 13 anos atrás. Segundo relatório mensal do ONS divulgado ontem, as chuvas previstas para outubro nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que concentram os principais reservatórios de hidrelétricas, deverão ser de 67% da média histórica para o período. Assim, o nível de suas represas deverá baixar dos atuais 22,09% para 19% ao fim do mês. Essa queda vem ocorrendo quase ininterruptamente desde junho de 2013, sendo que o último período úmido não conseguiu recuperar os patamares mínimos confortáveis. “Diante de contexto mais desafiador que o de 2001, o próximo período chuvoso, de novembro a março, será fundamental para evitar problemas de abastecimento em 2015”, avaliou Alexandre Lopes, diretor técnico da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). Ele ressaltou que a grande diferença entre os dois piores momentos do setor elétrico nacional é que, no racionamento, houve “pelo menos o bom senso de pedir à população que contivesse o consumo”. “Ao optar pela sustentação da demanda a custos elevadíssimos, o governo criou riscos desnecessários”, acrescentou. O resultado imediato dos levantamentos pessimistas em relação à geração hidrelétrica foi uma nova disparada dos preços da eletricidade no mercado à vista. O valor da energia de curto prazo bateu novamente no patamar mais alto permitido para o ano, de R$ 822,83, em todas as regiões e patamares de consumo. Ontem, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informou que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) para o período seguinte, de 18 a 24 de outubro, permanecerá no teto, uma alta de 2% em relação à semana anterior. Essa situação não ocorria desde a última semana de maio de 2014. A CCEE ressaltou que o enfraquecimento das frentes frias verificado nas últimas semanas provocou a redução em cerca de 1,5 mil megawatts médios (MW/m) na previsão para as próximas semanas. O Sudeste é responsável por 43% dessa queda. Entretanto, alerta a entidade, a alta da temperatura prevista para o Sudeste e o Norte intensifica o uso o de equipamentos de climatização de ambientes, pressionando o consumo em mais 180 MW/m para a próxima semana. O próprio ONS elevou também ontem a sua projeção de alta demanda de energia no país em outubro, de 1,3% para 2,4% ante igual mês de 2013. A razão disso já pode ser comprovada na venda acelerada de ventiladores e ar condicionados em todo país.

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