Mistério gozoso

Sílvio Ribas Os maiores milagres cotidianos decorrem de gestos simples. Praticar a gentileza, acordar cedo e manter rotinas em favor da saúde física e mental são atitudes com grande potencial transformador. Tais esforços rendem prazeres no médio prazo que ajudam a moldar uma cultura de bem-estar pessoal e coletivo. Nesses tempos de turbulências na economia e de uma insatisfação generalizada do cidadão, o mistério gozoso da simplicidade pede passagem. E a mudança que ele proporciona poderia ir além do aspecto meramente motivacional, tendo a eficiência como foco central. O Brasil e os brasileiros carecem de ambiente mais produtivo. Em praticamente todas as áreas da vida econômica deste país grande, complexo e inseguro há desperdício de recursos financeiros e de tempo. A corrupção é parente próxima da burocracia. Na maioria das vezes, é a filha dela. Filas e procedimentos intermináveis favorecem atalhos vendidos pelos agentes legais e esquemas paralelos ganham uma infame razão de existir. Se as autoridades e os gestores privados lutassem sem parar para simplificar as coisas, a transparência seria beneficiada e a produtividade começaria a se livrar de entraves óbvios. Menos é mais, diz um velho bordão. Onde há retrabalho, papelada e exigências extemporâneas também prospera desânimo, espertalhões e baixa competitividade. A tradição católica lista cinco fatos felizes narrados pelo Evangelho que vão da gravidez de Maria à infância de Jesus. Parafraseando essa parte do Rosário, os mistérios a serem revelados para encarar desafios da ineficiência brasileira seriam tão positivos quanto urgentes. Exemplos? Menos impostos, mais digitalização (ou desintermediação) nos serviços públicos, mais objetividade das leis, mais clareza dos despachos jurídicos e prazos mais curtos na liberação de licenças. Agilidade e precisão são características marcantes das empresas e dos países bem-sucedidos na atual Era do Conhecimento. Sem sermos eficientes o bastante para competir com o resto do mundo e melhorar a qualidade de vida das pessoas, continuaremos cobrando cada vez mais caro para fazer o mínimo razoável. Enquanto isso, opções mais diretas e simples seguem sendo soterradas pelas alternativas custosas. Assim, o carro individual compete com o ônibus lotado e atrasado, o lanche industrializado substitui o almoço leve, o despachante facilita o trâmite do cliente no cartório, entre outros alívios localizados. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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