Lição de casa

Educação é coisa muito séria. Do nível de escolaridade de uma nação depende, cada vez mais, sua mobilidade social, sua competitividade internacional e até mesmo seus indicadores sanitários. O Brasil avançou muito nos últimos 20 anos em termos de inclusão de crianças em salas de aula, mas pecou demais na qualidade do ensino. Não há mais dúvidas de que nosso capital humano está despreparado para render o necessário à melhora geral de produtividade e de renda. E a questão vai muito além da meta de se elevar o percentual de gastos públicos no setor para 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Mais dinheiro, por si só, não vai representar grande coisa em termos de rendimento escolar das pessosa. O problema todo está na gestão, na aplicação correta dos recursos e no envolvimento da sociedade com esse tema. As atuais férias nas escolas, definidas pelo calendário da Copa do Mundo, deveriam ser a pausa obrigatória para os candidatos à Presidência, que estão sendo ungidos pelas convenções partidárias, apresentarem um plano de reforma do modelo educador. Não podemos considerar como sérias propostas que deixem as coisas como estão. Urge mudar tudo, sim. A começar pela carga horária, que deveria se ampliar, e do quadro geral de disciplinas, que deveria prestigiar mais o português e a matemática. Outro dia, me deparei com uma situação que ilustra bem as tragédia da formação dos frequentadores de uma fragmentada grade curricular. A balconista de uma loja de conveniência brigava com o cliente por não entender o peso do acréscimo de um chiclete (R$ 0,80) numa conta de R$ 16. Para ela, com calculadora em punho, a despesa subiria para R$ 23. Quer mais? A caixa de uma loja de materiais de escritório me perguntou se o meu “César” era com “s” ou “z”. Respondo: “s”. Aí vejo a nota fiscal com meu nome escrito “Sesar”. Em reforço, o ex-presidente do Crea-DF, Danilo Sili Borges, fez observações interessantes, num recente artigo publicado em revista da categoria dos engenheiros. Ele vê leniência dos concursos públicos diante do enfraquecimento da capacidade dos candidatos em itens básicos. Em razão da “falta generalizada de intimidade com os números”, os editais substituem o conteúdo matemático das provas pelo “raciocínio lógico”. Da mesma forma, acrescentou ele, a língua pátria deu lugar à “interpretação de textos”, como forma de “escamotear a inabilidade” com o uso corrente do português. Triste e preocupante. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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