Fora dos eixos

Sílvio Ribas Os economistas Dilma Vana Rousseff, presidente da República, e Guido Mantega, ministro da Fazenda, escorregaram nas próprias palavras semana passada, ao reconhecerem em entrevistas os evidentes problemas com a inflação alta e com as contas públicas desarranjadas. O gesto de sinceridade da candidata à reeleição, ao afirmar que "não está tudo bem" com os indicadores de preços, parece ter cruzado a linha divisória traçada pelo marqueteiro João Santana. Negar as dificuldades para domar o dragão poderia soar autismo, mas assumi-las totalmente poderia soar o reconhecimento de uma falha. No caso de Mantega, valeu admitir que o balanço de 2013 foi fechado "na marra", recorrendo ao jogo de cintura e habilidade dos seus técnicos, para não classificar o arremedo de maquiagem ou trucagem. Mais sinceridade seria desejável no caos elétrico, quando o governo reitera todo o dia que prefere pagar mais caro para manter o consumo do que combinar com a sociedade formas de minimizar custos e evitar o colapso. Tanto Dilma quanto Mantega têm insistido que os fundamentos econômicos do país estão firmes e se apresentam tão ou melhores do que os mercados mais desenvolvidos. Culpam os efeitos danosos da longa trajetória de saída da crise global ocorrida em 2008 e 2009 pelo baixo crescimento da economia nacional e pelos eventuais sustos cambiais e perdas de divisas externas. Ocorre, contudo, que o cenário internacional adverso não tem penalizado todos os emergentes da mesma forma, e a América Latina, com grande peso do Brasil, tem ficado no fim da lista das economias recuperadas. O tão condenado ajuste fiscal da Europa começa a dar resultados positivos até mesmo para a Grécia e a Espanha, e a inflação é forte mesmo em nações latino-americanas. São nos indicadores curiosos da economia brasileira, nos disparates difíceis de acreditar até mesmo para quem já viu de tudo neste país, que estão as principais fontes de desconfiança nos discursos otimistas das autoridades. Coleção de erros Preste atenção em alguns casos da atualidade. A energia elétrica, um insumo essencial das indústrias eletrointensivas, está valendo mais do que o fabricado por elas. Ninguém mais acredita que o Banco Central esteja perseguindo mesmo o centro da meta de inflação fixada pelo governo, de 4,5%. Sua missão passou a ser não deixar estourar o limite de 6,5%. A produção e a venda de carros nacionais oscilam por espasmos, ao sabor de estímulos temporários. Quer mais um exemplo? Salários de algumas categorias profissionais continuam tendo reajustes anuais superiores ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apesar de a produtividade continuar caindo. É por essas e outras que os artigos do jornal britânico Financial Times não conseguem deixar em paz a presidente e o seu chefe da economia. Na cutucada mais recente, afirmou que Dilma tem a aura de eficiência da chanceler alemã Angela Merkel, mas tem uma performance do palhaço Grouxo Marx. Nessa toada, a maior sandice é driblar rombos no Orçamento com a transferência direta de recursos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com isso, o próprio Tesouro Nacional já previu que a dívida pública federal possa chegar ao fim do ano em R$ 2,32 trilhões, 10% a mais em relação ao total de 2013. » O presidente da Avianca, José Efromovich, está otimista com a configuração que os grandes aeroportos do país concedidos à iniciativa privada terá após a execução das atuais reformas e ampliações. "A lição que fica é nunca mais esperar 20 anos para fazer o necessário para acomodar o setor", disse. Na sua avaliação, o governo deveria enxugar a lista de terminais de pequeno e médio portes que serão alvo de investimentos bancados pelo Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), dentro do Plano Nacional de Aviação Regional. Em vez de 270, ele sugere empenho para viabilizar a transformação de até 50, levando em conta a habitual demora de obtenção de licenças ambientais e ajustes em projetos de engenharia. Um novo marco civil para as teles » O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), determinou a criação de uma comissão especial para elaborar propostas de um novo Marco Regulatório da telefonia. Ele espera que outras propostas de lei que mudam pontos da Lei Geral de Telecomunicações (9.472/1997) sejam incluídas, envolvendo questões tributárias, de infraestrutura e de defesa do consumidor. Em paralelo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) dá continuidade a portarias em favor de dar mais eficiência às atuais redes de telecomunicações, facilitando compartilhamento de antenas e outros equipamentos entre rivais e a celebração de acordos e contratos entre operadoras. As empresas, por sua vez, fazem questão de mostrar que os investimentos em serviços estão em alta. A avalanche de greves oportunistas » A semana começou com a contagem regressiva dos últimos 30 dias até a abertura da Copa do Mundo. A notícia serviu para atiçar ainda mais os líderes sindicais, que enxergam na proximidade do evento a chance de pressionar o governo e empresas concessionárias, já preocupados em administrar os problemas atuais. Nos últimos dias, virou notícia batida as tais "48 horas de paralisação", anunciadas quase sempre na véspera. A população é a maior prejudicada. Sempre. Fonte: Correio Braziliense, edição de 14/05/2014

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