Brasil, amigo do mundo

Muito antes de o Brasil ser badalado nos mercados financeiros como uma das potências emergentes, o mundo já descrevia o mais populoso e rico país latino-americano como uma terra de natureza exuberante, de boa música e de povo alegre e multirracial. Isso tudo sem falar das eternas marcas de pátria do futebol, do carnaval e de praias inesquecíveis onde desfilam belas mulheres. Tais estereótipos sobreviveram às decepções no campo econômico dos últimos anos e à perda de confiança de investidores nacionais e estrangeiros nas estimativas do governo. Para os que vieram ver a Copa do Mundo, o Brasil apresentado lá fora não tem tudo de ruim e de bom que venderam, mas é um lugar diferente de tudo. Nem mesmo a insatisfação doméstica com a precariedade dos serviços públicos e o desencanto com as promessas de progresso expressivo e duradouro alteraram a expectativa dos muitos estrangeiros que gostariam de conhecer o gigante da América do Sul. Para eles, desse torrão tropical surgem de todos os lados gente disposta a conversar com quem não se entende a língua, a abraçar o visitante desconhecido e a fazer amizade com apenas poucas gargalhadas depois. Como pano de fundo, um panorama com montanhas verdes, roupas coloridas e o som das batucadas. É verdade que pegaram mal as notícias falsas e verdadeiras sobre os ardis para turistas nas grandes cidades, sobre a crescente violência movida a narcotráfico e sobre os protestos violentos nas ruas e com depredações de patrimônio e tiroteios ao meio-dia. Também é possível que algumas pessoas lá de fora passaram a enxergar o lado de cá de uma forma menos simpática. Entretanto, Brasil é Brasil e não demorou para que as primeiras seleções a chegar entrassem em rodas de samba, tirassem fotos com os locais e aprendessem o refrão do Lepo-Lepo. O imaginário universal de um Cristo Redentor de braços abertos vinha sendo pichado em muros das periferias dos quatro cantos do planeta. Grandes marcas de consumo e de restaurantes, por sua vez, deram ao verde-amarelo e ao nome dessa República uma exposição inédita. Isso tudo sem falar das reportagens — seja de temática positiva, seja de negativa — sobre os usos e costumes do país, sobre as contradições e, obviamente, sobre o Mundial. A recepção calorosa parece, pelo menos, ter restaurado a experiência mais esperada pelos que chegam a esse solo, vindo de todos os lugares possíveis. Os contratempos de serviços e de infraestrutura deram um ruído menor ao grande encontro dos tupiniquins e o mundo. A Copa terá um saldo positivo ao desvendar aos turistas um país complexo e digno de ser melhor conhecido e analisado. Por outro lado, os incômodos com as falhas na acolhida não anularão a boa surpresa de se topar com um mercado maior e mais complexo do que o imaginado por muitos. Também não vai faltar boas lembranças do jeito comunicativo e festeiro das pessoas encontradas aqui. Em resumo: tudo aquilo que os gringos mais esperavam dos brasileiros é que eles fossem apenas… brasileiros. Na crescente competição internacional, ser receptivo ao outro sempre é um gol a favor.

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