Chama o gerente

Por Sílvio Ribas Antes mesmo de ser candidata a presidente pela primeira vez, em 2010, Dilma Rousseff já era apresentada como grande gestora da máquina pública. Sua fama de durona e impiedosa com escorregões dos comandados, desde os mais simples aos mais graúdos, chegou à campanha eleitoral e gerou grande expectativa sobre como seria seu desempenho à frente do Executivo. Mas diante dos resultados colhidos em pouco mais de três quartos de sua gestão, a grande lição que a gerentona do Planalto deixa é que autossuficiência e humilhação de subordinado não atestam capacidade. Diálogo franco e jogo de cintura valem muito mais. Desde gabinetes de executivos nas matrizes de gigantes multinacionais até salas de hotéis em Brasília onde lobistas trocam figurinhas com parlamentares, prospera o debate de como a segunda mulher mais poderosa do planeta conseguiu transformar o país emergente mais badalado dos mercados numa caixinha de incertezas. Ardores ideológicos? Despreparo? Centralismo nas decisões? Se direcionarmos a nossa lente para os ambientes frequentados pela classe C, como salões de beleza e feiras de importados, perceberemos que também já circulam as mesmas indagações, tendo o pleno emprego como único fato atenuante. Isso porque a conta cada vez mais cara do supermercado, os péssimos serviços públicos e a cores cada vez mais surreais da violência urbana formam o conjunto de pulgas a marchar para trás das orelhas de indivíduos pouco afeitos aos números ruins da balança comercial, aos rombos do setor elétrico e à evaporação de ações na bolsa de valores de São Paulo. Esse pessoal é o mesmo que vem se descobrindo cidadão nas relações de consumo, exigindo respeito pelo suado dinheiro que gasta na compra de produtos e serviços. Eles começam a entender que a mesma lógica pode e deve ser aplicada às responsabilidades do Estado para com o contribuinte. Se o atendente de uma loja não resolve o problema apresentado pelo cliente, este não titubeia e disparar logo um “chama o gerente”. Prefeitos, governadores e presidente também serão cada vez mais enquadrados nessa categoria de responsáveis por dar a resposta final às insatisfações com o tratamento recebido. Curiosamente, após desprezar os conselhos de Jorge Gerdau, Dilma vai enfrentar nas urnas de outubro dois jovens ex-governadores discípulos das ideias gerenciais desse experiente empresário, aplicadas à coisa pública e centradas na cultura de resultados. Fonte: Correio Braziliense de ontem

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