BBB do B é BBB-

A vida real da economia não é um reality show. A maioria dos analistas considerou a decisão da agência americana de classificação de risco Stantard & Poor’s (S&P)de cortar a nota de crédito da dívida soberana do Brasil, de BBB para BBB-, algo previsível, face a piora das perspectivas macroeconômicas do país, e temem pelos seus desdobramentos nas finanças. Alberto Ramos, diretor de pesquisa para América Latina do banco americano de investimento Goldman Sachs, também não se surpreendeu com a decisão da S&P, pois ela “reflete uma erosão gradual dos fundamentos macroeconômicos nos últimos anos”. O atual perfil do Brasil até justifica, acrescenta ele, que o país se mantenha como grau de investimento, “mas não necessariamente dois niveis acima desse patamar”. Ele teme que a pior notícia para o mercado é ver que a decisão da agência não ficou para depois da eleição. A saída, a seu ver, é o governo reagir com políticas mais orotodoxas e convencionais para rebalancear a economia.
Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de investimentos INVX Global Partners, lamentou que a decisão confirma a piora do risco país que o mercado já havia ditado. “Haverá aumento do custo de captação das empresas brasileiras no exterior e da colocação de títulos brasileiros lá fora. De forma mais imediata, a taxa de câmbio vai abrir em alta hoje, assim como os juros nos mercados futuros, o que poderá afetar as perspectivas futuras para a inflação e juros”, resumiu. Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra, ressaltou também que a grande surpresa da decisão não foi o seu conteúdo, mas o tempo em que ela ocorreu. “A S&P, que foi a primeira que nos levou ao grau investimento, vinha indicando desconforto com a situação fiscal, pois o crescimento econômico baixo cria problemas na dinâmica da dívida pública”, explicou, acrescentando que pesou na decisão o descumprimento das metas fiscais nos últimos dois anos e a chamada contabilidade criativa. Para o economista Carlos Alberto Cinquetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o rebaixamento da nota de crédito só confirma a percepção geral de que o Brasil não tem conseguido reagir às suas crescentes dificuldades nos cenários internacional e fiscal. “A perda de competitividade externa está clara nos números da balança comercial, a perda de confiança de investidores está pesando no valor de mercado das maiores empresas e a desvalorização do real cria novos encargos”, sublinhou. “Não é uma coisa totalmente inesperada, dada a postura mais crítica que a S&P tem tomado com o Brasil em comparação com as outras agências”, comentou Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes do banco Nomura. Na sua opinião, muitos estavam esperando que a notícia só viesse daqui a alguns meses. “Mas temos que lembrar que a mudança na perspectiva já tinha ocorrido em março de 2013”, sublinhou. O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, discorda das razões para a piora na avaliação. “Foi um equívoco. Do ponto de vista dos indicadores de solvência externa o país já tinha uma nota inferior ao de outros países comparáveis”, protestou. Ele lembra que o mercado estava até dando um trégua para os mercados emergentes, mas ainda é “difícil analisar as consequências dessa medida” para os ativos brasileiros. Ariovaldo Santos, gerente de renda variável da H.Commcor, acredita que a tendência natural para os mercados hoje é expor o medo de que haja uma reação em cadeia e de que outras agências façam o mesmo. “Se isso se desencadear, a bolsa deve devolver toda essa puxada recente. O dólar pode subir com a venda de ações e saída de capital do Brasil”, apostou.

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