Partido do Simples

Por Sílvio Ribas A sopa de letrinhas do quadro partidário brasileiro não é só indigesta. Ela também está cada vez mais insossa e fria. São quase duas dezenas de legendas que em nada representam os interesses populares, uma ampla maioria na qual é evidente o papel de seus líderes ou donos como vendilhões do tempo da propaganda eletrônica ou de atalhos para projetos eleitorais. O toma lá, dá cá de nanicos e gigantes desse varejo torna meramente formais estatutos e programas. No exercício do poder, as boas intenções escritas se mostram vazias de qualquer visão política com p maiúsculo. Diante desse cenário desanimador, contra o qual a presidenciável Marina Silva luta para estabelecer uma nova lógica ao fundar uma agremiação a partir das convicções comuns dos seus seguidores sonháticos, ouso lançar a ideia de uma nova sigla, o PSim. Em meio a tantas outras, o Partido do Simples teria como bandeiras a burocracia zero (utopia maior), o desapego ao patrimonialismo (leia-se boquinhas na máquina de governo), a ampla transparência das coisas da República e ainda objetividade e presteza em todos os assuntos da cidadania. Entre os mentores ideológicos dessa nova força democrática em busca do voto consciente a cada dois anos, aponto o saudoso ministro brasileiro da Desburocratização, Hélio Beltrão, e os alemães Werner Küstenmacher e Lotha Seiwert, autores do bestseller Simplifique sua vida (recomendo). A primeira proposta concreta a colocar na rua seria resumir todos os documentos do povo em duas sequências alfanuméricas - uma civil, social e previdenciária (RG horizontalizado) e outra fiscal e financeira (CPF estendido). Cadastros públicos seriam unificados e um cartão magnético representaria o indivíduo. Propostas como a de unificar todas as obrigações patronais com a folha dos empregados domésticos numa só alíquota seriam muito bem-vistas pelos filiados do PSim? Sim. E quanto a concentrar todas as eleições de primeiro turno em uma só data? Essa é outra questão a ser analisada. Não por acaso, o slogan permanente de campanha seria "Menos é mais". Simples assim. O bipartidarismo da ditadura (1966-1979) não deixou saudades. Dizia-se à época que havia "o partido do sim", o oposicionista MDB, e o "partido do sim, senhor" (a governista Arena). A piada clamava oposição de fato. Hoje, o desconforto é ver poucas proposições reais, além do simples plano de ocupação de cadeiras legislativas. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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