Onda hedionda

Sílvio Ribas O homem é mesmo a mais singular criatura da natureza. Mas, ao contrário do que gostamos de frisar, não é a inteligência a principal característica de nossa exclusividade no reino animal. Lamento apontar a capacidade ímpar de sentir prazer com o sofrimento alheio como a mais destacada marca da espécie humana. Nos últimos meses, notícias de ataques com violência sexual contra mulheres de todas idades e em partes distintas do globo deixam claro que a barbárie avança numa época na qual muitos sonhavam ver a vitória final da civilização de seres racionais contra eventuais resquícios de bestialidade. Estupros são crimes hediondos, condenados até mesmo pelo código de comportamento dos piores encarcerados. Qualquer ameaça à integridade física de entes queridos já coloca em estado de vigília o mais pacato dos cidadãos. Os atentados coletivos verificados desde o ano passado na Índia, no Brasil e na África reforçam ainda mais as doses de adrenalina, também porque esses episódios colocam velhas esperanças contra a parede. Como é possível haver gente assim nos dias de hoje? Os maridos e companheiros truculentos e os chamados tarados são criminosos igualmente execráveis, contudo são mais facilmente tipificados. Os bandos de bárbaros que aterrorizam turistas são um fenômeno a exigir novas análises de especialistas e reações das autoridades de segurança pública. Africanos que estupram em grupo o fazem como arma de guerra tribal ou nacional. Indianos que envergonham a sua grande nação com atos violentos contra cidadãs indefesas expressam repressões e rancores milenares. Brasileiros que contam vantagem de suas atitudes espúrias repetem uma cultura machista sem mais lugar na sociedade. Todos precisam ser contidos pela solidariedade internacional, sob o risco de sua loucura despertar outros instintos primitivos. O escritor português José Saramago avaliou certa vez a "racionalidade irracional" dos seres humanos, justificada até pelo Estado contra seus inimigos. Para ele, o instinto de sobrevivência leva os bichos a matarem enquanto os homens assassinam e torturam a sua espécie (e as demais) movidos basicamente pelo desprezo. É desolador quando o mínimo respeito mútuo precisa ser defendido por convenções internacionais de direitos humanos. Fonte: Correio Braziliense - 27/04/2013

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