Montadoras querem exportar mais

Sílvio Ribas Enviado especial São Paulo - A indústria automotiva vai intensificar suas parcerias com o governo e com a rede de autopeças para elevar a produção nacional, aproveitar as oportunidades abertas pelo mercado doméstico hoje cobertas pelos concorrentes importados e, ainda, reverter o declínio das exportações. As montadoras também se comprometem a investir 60% a mais que a atual média nos próximos cinco anos para atingir as metas de maior eficiência energética e de incentivo à capacidade da engenharia brasileira produzir inovação, conforme espera técnicos do Ministério do Desenvolvimento. Esses objetivos foram traçados ontem por Luiz Moan Yabiku Júnior, recém-empossado como presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entidade que reúne as 28 empresas com produção em 55 unidades espalhadas em todas as regiões brasileiras. Além de projetar avanços nas vendas internas de carros de passeio, de comeciais leves de de caminhões, o economista com mais de 30 anos ligados ao setor automobilístico, espera também melhor desempenho no varejo de máquinas agrícolas. Ele reconheceu que o tamanho do mercado nacional ainda é artificial, mascarado pela elevada carga tributária direta e indireta. "Só com a redução desse peso, que chega a 43%, é que saberemos o real tamanho da demanda", apostou. Entre os "grandes desafios" de sua gestão que vai até abril de 2016, Moan destacou a consolidação do novo regime automotivo (Inovar Auto), cuja regulamentação deverá ser editada nos próximos dias pelo governo, dentro do esforço de preservar a produção nacional. "Nunca desejamos o fechamento total do mercado e o intercâmbio com os importados é bem-vindo. Só queremos que a indústria nacional avance aproveitando o potencial do mercado doméstico, oferecendo produtos mais atualizados tecnologicamente, menos poluentes e mais adequados ao gosto do cliente", explicou. Nesse sentido, ele frisou que o mercado automotivo brasileiro cresceu continuamente entre 2004 e 2013, saindo de um patamar de 1,4 milhões de unidades vendidas anualmente para 3,8 milhões, uma alta acumulada de 166%. Apesar disso, a produção doméstica avançou menos (99%). "Somos o quarto maior mercado mundial, mas apenas o sétimo em produção. Nossa meta é aproximar esses dois patamares, chegando a pelo menos o quinto lugar como fabricante", discursou Moan. Sua meta é elevar a capacidade de fabricação nacional para 5,6 milhões anuais em cinco anos. Além do Inova Auto, o novo presidente da Anfavea, diretor da General Motors e que substituiu Cledorvino Belini, presidente da Fiat, informou que negocia com o Planalto a implantação de um Inova Peças, com estímulos à cadeia fornecedora baseada em metas de qualidade e produtividade. "Não pode haver indústria automotiva forte sem indústria de autopeças forte", observou. Por fim, Moan revelou que os técnicos da associação estão elaborando uma proposta para os governos federal e estaduais voltada especificamente para as exportações de veículos, programa já batizado por ele de Exporta Auto. A ideia é compensar o peso da valorização cambial nos últimos anos com a retirada de impostos também exportados pelo setor. "Queremos voltar ao patamar de 1 milhão de unidades exportadas por ano, perdidas desde 2005. Ano passado não chegamos nem à metade daquele ano, exportando 420 mil, número que tende a piorar se não fizermos nada", defendeu. Para ele, a meta de exportação é factível e ainda equivaleria ao número atual de importados. No que se refere às questões ambientais, o executivo reconheceu que a indústria automotiva "é parte do problema atual", mas que "também pode ser a solução". Além de abrir espaço para todas as formas alternativas de propulsão, como híbrida e elétrica, o setor se compromete em apoiar projetos que ajudem a mobilidade urbana e ajustes na legislação para agilizar a reciclagem de veículos. Moan também reconheceu que o etanol tem tido um papel inferior ao seu potencial na matriz de combustíveis, mas acha que a razão disso está nas incertezas da oferta, algo que será solucionado com a efetivação da chamada segunda geração. As novas tecnologias para extrair álcool dos refugos da cana e de outras fibras vegetais poderão, segundo ele, aumentar a produção em 60%, sem alterar a atual área de plantio.

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