Notas norueguesas

Sílvio Ribas

Há quase um ano tive o prazer e a honra de pisar em solo norueguês e lá ficar por dez dias. Descobri ali mais do que um país e um povo, mas também um sistema econômico e uma organização social invejáveis. Escrevi e publiquei algumas reportagens sobre essa experiência gratificante, mas muito deixei para desdobrar outras informações colhidas mais adiante, seja em conversas com amigos, seja registrando em possíveis memórias impressas. Eis alguns temas que gostaria, ainda, de versar sobre a simpática e bela Norway (Noruega).

FUTURO DA PESCA
O aquecimento global e o mercado clandestino (predatório) estão mudando rapidamente o perfil e o mapa da indústria pesqueira no mundo. Atenta, a Noruega, segundo maior exportador, atrás só da China, investe em tecnologia, regulação e fiscalização ostensiva para garantir sustentabilidade no longo prazo. O primeiro desafio é manejar melhor os estoques de peixes, como bacalhau, que estão se mudando para mais perto das águas geladas do Polo Norte. O outro é tentar ampliar acordos com outras potências pesqueiras e levantar a bandeira da classificação de origem. A Noruega reclama de disputas com Espanha (Sul) e Rússia (Norte). Em paralelo, governos e empresas convertem atividades para o modelo intensivo (aquicultura), que avança no Brasil e na própria Noruega.

CLUSTERS DE SUCESSO
“Cooperamos sempre que podemos e competimos se preciso for”. A frase repetida como um mantra por centenas de pequenos empresários noruegueses é facilmente constada numa prática de resultou em ampla diversificação da economia nacional, sobretudo em negócios envolvendo a pesca e o petróleo. O governo do país nórdico conseguiu nos últimos anos transformar incubadoras e incubadas, associadas ou não a universidades, em modelo de sucesso empresarial. Com foco em cadeias produtivas e desenvolvimento de tecnologias para o mercado global, elas conseguem vender para grandes empresas, como Petrobras.

MISSÃO: PRÉ-SAL
Governo e empresas norueguesas estão de olho no pré-sal brasileiro. Enquanto oferecem inovação em equipamentos ultramodernos para a exploração petrolífera em águas profundas, dezenas de pequenas e médias companhias do país repetem o mesmo discurso: “a Petrobras é decisiva para o futuro de nossos negócios”. Elas acreditam que o Brasil será a próxima e maior fronteira exploratória do mundo e aproveitam a experiência doméstica acumulada com a Statoil para vender soluções. Para vencer a concorrência internacional e superar as barreiras dos limites do conteúdo local, os empresários também criaram um modelo que privilegiada as parcerias com clientes estrangeiros. Nesse sentido, oferecem estágio para estudantes brasileiros e até transferência total de tecnologia. Não por acaso, as imagens e os equipamentos high-tech envolvidos nas operações submarinas lembram a exploração em outros planetas. “O desafio tecnológico se equivale a colocar o homem na lua”.

OCASO DO BACALHAU DO PORTO
O encarecimento da mão de obra portuguesa e a modernização da indústria pesqueira norueguesa estão acelerando o fim do conhecido bacalhau do Porto. A própria Noruega, fornecedora de 100% da matéria-prima, consegue agora fornecer o peixe já seco e preparado ao gosto de brasileiros (asa branca) e portugueses (com camadas escuras de gordura). Exportadores do país nórdico acreditam que dentro de mais dois anos será consumido o último produto feito na cidade lusitana, sucumbindo à lógica dos custos. Apesar de ter empregado com salário mais caro e com jornadas menores, a Noruega automatizou o processo, da pesca ao despacho da mercadoria.

TURISMO/ALÉM DOS FIORDES
Patrimônio da Humanidade, os Fiordes — formação rochosa que margeia um extenso canal marítimo na Noruega — são desconhecidos da maioria dos turistas brasileiros que passam pela Europa. Ainda mais surpreendentes são outros locais pelo interior bucólico do país escandinavo, com spas e hotéis luxuosos à beira de lagos e rios, construídos no início do século 20. Com uma culinária selvagem e um meio rural repleto de cartões postais, os lugares ainda desafiam o visitante a acampanhar, praticar pesca esportiva ou apenas respirar novos ares.

TURISMO/DE A-HA A ZARGO
As primeiras referências que os brasileiros têm da Noruega são o bacalhau e os vikings. Mas a cultura norueguesa está presente em nossas vidas de outras formas, algumas bem pop. Na música, ela vem da banda A-ha à atual dupla Kings of Convinience e inclui um disco inspirado de Gilberto Gil, o Sol de Oslo. Também está em atores hollywoodianos e no folclore religioso nórdico, no qual se destaca o super-herói dos quadrinhos Thor. Até os Beatles contribuíram com o imaginário norueguês, com a canção Noregian Wood. Mas a criatividade dos noruegueses está outras coisas do cotidiano, como o spray aerosol, os clips de papel, o queijo marrom (com mel), o cortador (em lascas) de queijos, o motor de barcos, o ski, entre outros.

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