Adiós, Mercosur

Por Silvio Ribas

Ao contrário do Brasil, o Mercosul nunca gozou lá de muita credibilidade na arena internacional e em quase nada ajudou seus fundadores a ganhar musculatura para competir no comércio global cada vez mais agressivo. Como desfecho trágico da trajetória conturbada desde o seu lançamento, há 21 anos, o bloco comercial inspirado no ousado modelo de integração europeia parece ter afundado de vez no meio de suas próprias confusões e paixões.

Pelo menos nos quesitos liberdade e paz o grupo de países parecia ter amadurecido, se posicionando sempre contra as usurpações costumeiras das suas instituições no século passado. Mas seus erros na condução da economia também chegaram à diplomacia e à democracia dos Estados membros. Isso ficou evidente com os fatos gerados a partir da cúpula de presidentes da última semana, deixando a união aduaneira ainda mais longe de um futuro mercado comum e alvo fácil da desconfiança global.

A punição ao Paraguai, que parecia ser uma condenação coletiva ao processo sumaríssimo de impeachment de Fernando Lugo, sem o total respeito ao rito democrático, acabou se mostrando a desculpa barata para fazer a Venezuela de Hugo Chávez entrar no Mercosul pela porta dos fundos. Se antes a afinidade ideológica dos líderes era algo apenas curioso, como a reverência aos irmãos Castro, de Cuba, e o justo repúdio ao embargo norte-americano à ilha caribenha, agora o bloco se consagrou como um clube restrito a chefes de governo que também são amigos pessoais.

A Venezuela, ou mesmo a Argentina da era Kirchner, podem ser chamados de mais democráticos que o Paraguai? O atual (e eventualmente futuro) veto paraguaio à Venezuela não vale nada na opinião dos outros três velhos companheiros de luta? No momento em que investimentos argentinos e venezuelanos fogem para Miami, a presidente Dilma Rousseff considera o manipulador comandante boliviariano um líder de visão estratégica para o bloco, acima de tudo o que o Tratado de Assunção estabeleceu até hoje? Muitas perguntas sem resposta clara.

Já o documento de fundação é claríssimo ao determinar que o ingresso de um membro pleno só deve ser aprovado por todos os membros plenos já existentes, referendados pelos legislativos. A esperança solitária vem do pequeno Uruguai, onde chanceler e vice-presidente questionam a pressão brasileira para atropelar regras escritas e nações parceiras.

Fonte: Correio Braziliense - 05/07/2012

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