É óbvio!

Por Sílvio Ribas

Das máximas que colecionei do empresário mineiro Wilson Brumer, minha preferida é "tudo que temos de fazer para ter sucesso nos negócios e na vida é fazer o óbvio. Mas como é difícil fazer o óbvio". Concordo inteiramente com o ex-presidente da Usiminas, que começou a carreira profissional como frentista de posto de combustíveis. E até admito ser perigoso simplificar demais conceitos e fórmulas, sobretudo em economia. Contudo, após mais de 20 anos escrevendo todo dia sobre temas nem sempre fáceis para a maioria, como juros e câmbio, ouso dizer ter chegado, enfim, ao tal óbvio que resta ao país fazer para adentrar o mundo dos desenvolvidos.

A mãe de todos os problemas econômicos brasileiros está mesmo na crescente perda de competitividade da indústria, diante de um comércio internacional cada vez mais selvagem. Isso se deve ao tal custo Brasil, que contabiliza a infraestrutura capenga (sobretudo de transportes), impostos demais (uma infinidade de siglas), taxas bancárias pornográficas, dólar com preço desfavorável e a resistente e exagerada burocracia verde-amarela.

Esse retrato deprimente — tantas vezes pintado e denunciado por economistas e entidades patronais — pode ainda ser resumido em uma só questão, bem mais óbvia e restrita. Ela é a que explica o porquê de o consumidor brasileiro pagar bem mais pelos produtos vendidos aqui na comparação com o resto do mundo. Os preços altos, na média duas ou até três vezes mais caros, se devem à cobrança de impostos ao longo das cadeias de produção, desde as matérias-primas, completada pelo que é recolhido depois no comércio.

Para o Brasil se libertar de todas amarras ao seu progresso basta deslocar para o consumo a incidência maior da carga tributária, que absorve quase 40% de toda riqueza nacional produzida. Isso poderia gerar mais vagas de emprego, salários maiores com encargos mais leves sobre a folha, custo de energia justo, reduzindo parte da metade da tarifa que é só imposto e que se mistura a todos custos da economia. O cenário mudou, mas o perfil tributário se manteve como nos tempos da industrialização, nas décadas de 1960 e 1970, com economia fechada e pesados investimentos estatais. Depois de duas décadas estagnadas e outras duas instáveis, continuamos na mesma. As distorções agora viraram desindustrialização.

Fonte: Correio Braziliense de hoje

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