Crônica de futebol, política e economia


Minutos decisivos no jogo econômico

Sílvio Ribas

Se 2012 pudesse ser visto como uma partida de futebol, diria que o governo entrou no campo da economia com a obrigação de ganhar com diferença de um gol. O segundo tempo (semestre) já começou e o placar de um a zero em favor do adversário elevou a pressão da torcida e do banco sobre o time, que precisa partir para o ataque sem descuidar dos contra-ataques da especulação financeira e da perda de pique da China. A presidente Dilma Rousseff promete até virar o jogo, mas já admite que empate pode ser um bom resultado. Com isso, ficaria metade de seu mandato sem levantar troféus.

Em uma equipe onde é, simultaneamente, treinadora, capitã e atacante, ela ainda transmite segurança, enquanto critica a retranca da seleção europeia e postura da cartola alemã Angela Merkel de apenas "administrar resultados". Recorri à metáfora futebolística, tão comum nos pronunciamentos presidenciais do corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, para explicar que o campeonato disputado na política brasileira tem o nível de Copa do Mundo e envolve vagas para os torneios de 2014 e 2018.
E não é por mero acaso que o PSB do governador pernambucano Eduardo Campos está no aquecimento desde o ano passado para adentrar os gramados nacionais na primeira chance dada pela "professora" Dilma ou até mesmo por conta própria, dependendo do que sair da caixinha de surpresas das articulações partidárias. O único refresco para a presidente nessas bolas divididas é que os poucos craques da oposição não se sentem inteiros para jogar ou estão vetados pelo departamento médico.

Quando a chefe do Executivo — uma atleticana determinada como Dadá Maravilha, mas sem a verborragia dele — repete que a melhor forma de ajudar aos candidatos aliados é dedicar-se 100% à tarefa de resistir ao avanço da crise global, revela lucidez. Embora tenha experimentado semana passada, pela primeira vez, o bordão lulista do "nunca antes na história deste país", Dilma não deverá apelar para o populismo e as mensagens de autoajuda do antecessor.
Dilma tem pressa de devolver a bola escanteada para as quatro linhas e nutre pessoal repulsa à embromação, a tradicional cera, dos rivais. Ela sabe bem que precisa mudar o esquema tático da economia, sob pena de ter de mexer no time que está perdendo. Não é brincadeira, não. Desindustrialização rima com desclassificação do país nas competições do comércio exterior e começa a se traduzir em redução dos melhores postos de trabalho do mercado.

As medidas
Para não colecionar derrotas econômicas que podem se transformar em revezes políticos, a presidente ousou enfrentar os juros bancários, abriu algum espaço para o investimento privado, desonerou a folha de pagamentos e tentou sustar bombas-relógios na folha do funcionalismo e na Previdência. A tarefa de hoje e amanhã, por exemplo, é impedir que deputados da base, insatisfeitos com repasses orçamentários, derrubem medidas provisórias de estímulo à economia.

Diante dos números ruins, começou estimulando o consumo, enquanto faz o possível dentro da filosofia petista para destravar investimentos, além de convocar o "espírito animal" do empresariado, cada vez mais temeroso com o inverno a caminho. Prova disso foi a ameaça dada semana passada pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, às concessionárias de telefonia móvel, cobrando investimentos.

Para reforçar a urgência do Planalto em levar credibilidade à sua agenda positiva, que ainda vai incluir redução de encargos na conta de luz e novas renúncias ficais, o próximo mês também será o começo do julgamento do mensalão — maior escândalo de corrução da era Lula (2003-2010). O próprio ex-presidente evidenciou o seu temor de prejuízo nas urnas para candidatos aliados, em razão da cobertura que a imprensa dará às sessões históricas do Superior Tribunal Federal (STF), com a movimentação de bastidores para tentar adiar a chegada do processo ao plenário.

A centralizadora Dilma confere ponto por ponto as necessidades de reforço da economia e acompanha a evolução da campanha dos grandes jogadores globais para tentar, pelo menos, amortecer o impacto da desaceleração, que já contamina índices de empregos e ameaça o seu riquíssimo capital político. Uma combinação de noticiários econômicos e políticos negativos nos próximos 100 dias pode não levar, necessariamente, à derrota eleitoral. Mas ajuda a perder milhões de votos já garantidos.

Correio Braziliense e Estado de Minas - 16/07/2012

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