Google it!

"Conteúdo da web só é grátis para quem tem tempo a perder"

Por Damon Darlin

Na época em que os comissários comandavam a União Soviética, as pessoas passavam horas na fila do pão. Embora o pão fosse grátis, as pessoas pagavam com o seu tempo. Para os economistas, esse era um exemplo real de como o mercado sempre exige algum pagamento -em tempo ou dinheiro. Pagar com tempo em vez de dinheiro também parece ser comum na internet. Praticamente todo dia faço um grande esforço para encontrar na rede os meus programas favoritos de TV, já que cortei os canais a cabo para poupar cerca de US$ 110 por mês. Levo de cinco a dez minutos para encontrar os programas no Hulu.com ou no Clicker.com.

Vale a pena? Sei lá. Não achei um economista que me dissesse exatamente quanto vale o meu tempo livre. (Achei, no entanto, um fascinante documento do governo americano que tentava estimar o valor do tempo gasto em viagens, levando em conta o salário dos caminhoneiros e pilotos de avião.) Faço o mesmo tipo de busca por notícias, assim como milhões de pessoas, como prova a queda na audiência dos noticiários de TV e na leitura paga de jornais e revistas.

Todos nós parecemos preferir perder tempo garimpando as notícias a pagar uma ninharia para que alguém faça isso por nós. O mesmo vale para encontrar cupons de descontos ou passagens aéreas mais baratas. Um tempo nada insignificante pode ser perdido nisso. Claro que, sendo um jornalista das antigas, fico tentado a argumentar que as pessoas um dia perceberão o seu erro e irão calcular o valor do seu tempo, começando a pagar por vídeos e notícias. Afinal, bastante gente decidiu desembolsar menos de US$ 1 pela conveniência de baixar uma música do iTunes ou Amazon.com, em vez de perder tempo caçando uma versão pirateada.

Mas acho que outra coisa também irá ocorrer. A tecnologia poderia muito bem fazer a fila soviética do pão desaparecer. Engenheiros do Google calculam que ajustes já feitos por eles poupem 1 bilhão de segundos diários aos usuários. Usando o Google para fazer um cálculo rápido, isso equivale a mais ou menos 1.800 vidas humanas.

A empresa é obcecada pelo tempo. Diz que o seu sistema operacional Chrome, a ser lançado em breve, irá ligar um computador e seu navegador em sete segundos ou menos. O Google já facilita as buscas ao sugerir termos possíveis enquanto a consulta é digitada. Mas Amit Singhal, pesquisador do Google que estuda a captura da informação, diz que a tecnologia ainda não chegou ao ponto em que encontraremos exatamente o que desejamos em questão de milissegundos. “Ainda são passos de bebê”, disse.

Mas dá para antever o futuro nos resultados personalizados do Google News. Ele aprende com as reportagens que você selecionou anteriormente, de modo a antecipar os artigos e as fontes noticiosas que você provavelmente quer. Conforme as buscas se tornam mais rápidas e inteligentes, é como se a internet estivesse virando uma calçada que se move a toda velocidade, levando todo o mundo para o pão grátis.

Fonte: FSP/NYT 26 de julho de 2010, em www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/ny2607201010.htm

Comentários