Crepúsculo dos vampiros


Em nome da precisão jornalística e da qualidade editorial, sou obrigado a fazer graves reparações ao belo texto "A eterna sedução dos vampiros" (edição 2.173, de 14 de julho), de Isabela Boscov. Ao contrário do que a colega jornalista diz, Drácula (1897) não é uma história de amor, nem de longe. É um clássico do terror, tendo como personagem-título um monstro, uma criatura maligna sem alma ou qualquer sentimento humano, agindo apenas como predador de pessoas. O equívoco do texto, que começa lá onde fala das "metamorfoses pelas quais os vampiros têm passado", revela um fenômeno da atualidade, onde transborda mídia digital, com muita informação e pouco conhecimento consolidado. Somos (me incluo nessa) mais influenciados pelas versões cinematográficas do que os textos literários, onde tudo começa. O filme Dracula de Bram Stoker não deveria ter este título. Deveria se chamar Dracula por Coppola. Ele criou algo que não está nas páginas escritas pelo irlandês Stoker, que moldou um mito universal humanizado pela telona nos últimos 80 anos até chegar ao angelical Edward. O Príncipe das Trevas está cada vez mais príncipe e menos trevas. Chegamos mesmo ao crepúsculo da concepção original de nosferatu. A liberdade poética de Coppola deu ao conde um passado que não havia na obra de Stoker, apenas para informar ao público da inspiração que o escritor teve no ditador romeno Vlad Tepes e, sobretudo, justificar uma paixão (?) pela bela Mina. Absurdo.

Comentários

André Luz disse…
Bram Stoker's Dracula leva este título pois é o filme que mais se aproxima do livro, mostrando todas as personagens que o compõem. Logicamente que Copolla, como todos os outros cineastas e diretores teatrais tiveram a liberdade artística, mediante à obra. Tanto que Copolla se utilizou um pouco do livro de Radu Florescu e Raymond T. McNally, In Search of Dracula, aonde os autores se dedicam a busca pelo verdadeiro Vlad Dracula ou Vlad Tepes, filho de vlad Dracul e senhor da Valaquia, que empalou seus inimigos e combateu os turcos.
No livro existe a menção da esposa de Vlad, que cometera suicidio, como mostrado no filme e no posterior, Dark Prince: The True History of Dracula. Apesar da liberdade artística, como muitos fizeram nos filmes da Hammer, Bram Stoker's Dracula ainda é o que mais de perto conseguiu contar a história do romance de Stoker, mesmo colocando como pano de fundo um romance que nunca existiu na obra original.