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Mostrando postagens de 2018

A bancada outsider

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Sílvio Ribas O Senado Federal está experimentando sua maior renovação em quase 200 anos. O índice de cadeiras disputadas na eleição deste ano que ganharam novos titulares alcançou históricos 85%. E destes 54, apenas oito ainda ficarão com reeleitos. As outras 46 serão ocupadas por senadores novos. Mas a grande novidade mesmo está com os nove estreantes na vida parlamentar, catapultados para o Congresso após poucos meses de campanha. Esses novatos em cargos eletivos formarão, a partir de 2019, uma informal e heterogênica bancada, a turma dos outsiders. Emergidos das urnas no embalo do crescente engajamento on-line de cidadãos, eles querem ser personagens ativos da nova era política do país e não apenas uma personificação do atual momento marcado por mudanças radicais. Os escolhidos este ano para a Casa Revisora que nunca haviam sido eleitos antes são: Leila do Vôlei (PSB-DF), Fabiano Contarato (Rede-ES), o primeiro senador assumidamente gay; Marcos do Val (PPS-ES); Juíza Se...

Não deixe a política morrer

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Sílvio Ribas A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e a procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, uniram-se à cantora Alcione para interpretar o clássico “Não deixe o samba morrer”. O inusitado momento, ocorrido no último dia 20 de agosto, durante um seminário em Brasília, viralizou nas redes sociais. Aquele refrão me inspirou, contudo, a fazer uma paródia com apelo mais cotidiano que o sugerido pela canção. Não deixe a política morrer, não deixa a política acabar. Nossa democracia foi feita de política, da política para nos libertar. Brado isso com a plena consciência de que os políticos do país jamais foram tão repelidos como agora. Mas sinto-me igualmente impelido a alertar para o risco de a aversão geral aos detentores de mandato popular ceifar a nobre atividade política. “A democracia é a pior forma de governo existente, exceto todas as outras”, ensina a frase eternizada por Winston Churchill em 1947. Os dois últimos séculos consagraram o ...

Quebra de paradigmas

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Sílvio Ribas A história com H maiúsculo não acabou. Muito já se analisou e muitos dados gerados pelas eleições 2018 ainda carecem de interpretação. Mas num primeiríssimo momento da ressaca das urnas, entendo o seguinte: 1) Os eleitores escolheram novo rumo para a economia com forte sinal liberalizante, o maior já visto no país pela via democrática. Basta saber que um Chicago Boy de matriz chilena chegou lá. 2) O poder no Executivo e Judiciário tem um novo arranjo nacional e novos em nível regional. 3) O cinturão vermelho de resistência do “ancien régime” representada pela bancada do PT na Câmara dos Deputados e pelas pelas votações em Haddad no Nordeste (estendido ao Pará) desafia o novíssimo status quo. Até que ponto a aposta na força do capitalismo suplantará o assistencialismo e o populismo? 4) O PSDB se esfarinhou e não consegue mais polarizar com o PT. João Doria, quem melhor captou o sinal dos tempos emitido desde as grandes manifestações de 2013, atestou ...

30 anos da Constituição Cidadã

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Sílvio Ribas A Constituição completou seu trigésimo aniversário no último dia 5 de outubro e a celebração do conjunto de leis que consolidou a superação do regime autoritário de 1964 também pode vir acompanhada de profunda reflexão. Na véspera das eleições, os cidadãos estarão próximos de escolher o seu futuro. Nesse momento decisivo cabe avaliar também o quanto se avançou com o “documento da liberdade, da dignidade, da democracia”, como Ulysses Guimarães descreveu a Lei Maior no discurso de promulgação. Trinta anos e sete presidentes da República depois, a Carta Magna de 1988 mostrou resistência após percorrer ciclo marcado por grandes conquistas, mas também de sucessivas crises políticas e econômicas. Sob a sua égide já se completou o mais longo período democrático da história do Brasil. Os duros testes aplicados sobre o marco legal do país pós-redemocratização revelaram a força dos princípios básicos da República, como a liberdade de expressão e a soberania popular....

A nova matriz política

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Sílvio Ribas Após as urnas do segundo turno se esfriarem e caso elas confirmem Jair Bolsonaro (PSL) como presidente eleito, deveremos ver a tentativa de se construir uma forma alternativa de se fazer política no país, sintonizada com o perfil do capitão reformado. A partir de falas, atitudes e sinalizações feitas pelo candidato e pelos seus companheiros mais próximos ao longo da campanha até aqui, é de deduzir que estaríamos a caminho de uma relação mais personalizada e menos institucional entre os poderes Executivo e Legislativo. Nela, o chefe do Executivo buscaria costurar o entendimento com parlamentares, um a um, pessoal e diretamente, sem olhar a cor partidária. Uma das sinalizações dessa inflexão, termo que Bolsonaro passou a usar com frequência, é o apoio que ele recebeu em bloco de bancadas temáticas e multipartidárias da Câmara dos Deputados: a Evangélica e a Ruralista, além da afinidade que tem com o grupo parlamentar a favor da revogação do estatuto do armamento,...

Embrapa, 45 anos

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Sílvio Ribas É com entusiasmo que está se celebrando 45 anos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Neste tempo de festa devemos ressaltar o papel estratégico da estatal para o desenvolvimento econômico e social do país, sendo ela a prova mais evidente de que investir em conhecimento é, sim, uma forma eficaz de gerar riqueza para toda a nação. O investimento firme e contínuo em pesquisa mudou a perspectiva de desenvolvimento do campo. E a busca por inovação para o setor agropecuário – com formação de recursos humanos, estudos em rede e foco nos problemas – trouxe resultados fantásticos. O objetivo da Embrapa garantir segurança alimentar para o Brasil. As conquistas, contudo, foram muito além. Hoje, o país é potência agrícola sustentável, prestes a atingir a liderança global. Em quatro décadas, a oferta de carne foi quadruplicada e a de frango, ampliada em 22 vezes. A produção de grãos saltou incríveis 555%, ampliando a área plantada em só 163%. As cr...

Meu adeus ao Alberto Dines

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Pontos-fortes da crise dos combustíveis

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Sílvio Ribas 1)     O governo federal foi imprevidente ao ignorar os alertas dados pelos caminhoneiros e outros setores sobre os riscos da escalada dos preços do diesel. Previu pagar para ver e perdeu feio, indo à lona em apenas três dias, correndo atrás do crescente prejuízo. 2)     Oposição e governo, ambos lados sob o efeito do período pré-eleitoral, criticaram duramente o presidente Temer e a Petrobras pela crise, marcada pelo desabastecimento e pela elevação dos preços de combustíveis e alimentos. 3)     Categoria ainda organizada de forma confusa e marginal, os caminhoneiros mostram excepcional força devido à anacrônica dependência brasileira da logística rodoviária de cargas. Mais de 60% de tudo que é vendido no país passa pelas estradas. São 2 milhões de profissionais do volante que mostram poder de mobilização em redes superior ao sindicalismo histórico. 4)     O óbvio é que a Petrobras ...

Ditadura na Venezuela

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Sílvio Ribas A escalada de arbitrariedades dos governos chavistas na Venezuela atingiu o seu ápice com as eleições do último domingo, dia 20. Se alguém ainda tinha algum pudor em se referir ao regime bolivariano como uma ditadura, agora não há mais qualquer resquício de argumento que sustente a ideia de democracia nesse país vizinho. Presos políticos são, infelizmente, apenas uma das muitas evidências de um sistema de absoluta exceção. A Venezuela escancara hoje ao mundo o cenário social e econômico mais caótico e desolador já visto nesse subcontinente sul-americano, digno de uma devastadora guerra. O populismo, a corrupção e o estatismo tornaram aquela nação unicamente dependente de sua maior riqueza, o petróleo, que não consegue fazer frente às necessidades de um desesperado povo. Tomadas à força, uma após outra, por sucessivos lances de dominação, as instituições venezuelanas estão violentadas e desconectadas dos cidadãos. Subjugadas pela fraude e pelas mudanças de con...

Pasta Joia Review - 34

A sabedoria do velho tropeiro  9 de novembro de 2016 Reza a mitologia grega que quando o titã Prometeu moldou os seres humanos pendurou neles dois alforjes. Na frente, um acomodava os vícios alheios e, por detrás, pendia o segundo, a colher os vícios pessoais. Por essa razão é que as pessoas enxergam com facilidade os erros dos outros, mas ignoram solenemente os seus próprios. João Camilo Penna, mineiro de grandiosos serviços prestados a este país, fez uma tocante releitura dessa lenda, à luz da sabedoria dos tropeiros que cruzavam as Minas Gerais na primeira metade do século passado. Conforme a sua versão sertaneja, inspirada na experiência do pai e do avô, o equilíbrio na montaria por longas e penosas jornadas representa uma metáfora do bem viver até o último suspiro de trajetória terrena. João Camilo Penna Os dois sacos que o viajante usa para levar dinheiro e mantimentos ganham outras posições e serventia mais sofisticada na parábola de Camilo. O da esquerda ca...

Pasta Joia Review - 33

Natal dos felizes  15 de dezembro de 2017   Nossa infância feliz no interior de Minas era feita de coisas simples. Naquelas distantes décadas de 70 e 80, até mesmo a fartura do Natal não exigia muito do orçamento doméstico. Sonhávamos acordados antes e depois de abrir os presentes na manhã do dia 25 de dezembro e ainda reservávamos tempo para louvar o mais ilustre aniversariante da data. Na sala de estar de minha casa, uma bela árvore emergia de um cacto-candelabro coberto de arranjos natalinos. A decoração era completada por toalhas de mesa vermelhas e por tocos de madeira do cerrado, que minha mãe enfeitava divinamente. Era época de brindar a vida com Sidra Cereser, o espumante de maçã sorvido como champanhe. Desfilavam pela ceia da véspera e pelo almoço da data comemorativa ao início da era cristã pratos como salpicão de frango, lagarto recheado com cenoura e pernil assado com abacaxi. De sobremesa, torta de amendoim gelada feita com bolachas. Outras opções eram a...

Pasta Joia Review - 32

A fantástica fábrica de gelo  26 de outubro de 2016 Durante minha infância em Curvelo tive a sorte de ser vizinho de um lugar incomum, que ganhava cores surreais da imaginação. Misto de galpão industrial e castelo, a antiga fábrica de gelo do Zé Ramos era, nos distantes anos 70 e 80, um ponto de transbordo entre os bem-equipados pescadores de Belo Horizonte e os graúdos peixes de Três Marias. Na breve passagem pela nossa cidade, turistas rumo à colossal represa do norte-mineiro enchiam caixas de isopor com lascas de gelo, que conservavam frutos da viagem no retorno ao lar. Tinha até quem parava ali no caminho de volta, para reforçar o congelante. Sábado, véspera de feriadão e férias escolares eram dias de comércio quente na fábrica. Nos dias de grande movimento, ficava só observando o abastecimento de carros, ouvindo histórias de pescaria. Mas o que mais atiçava minha curiosidade era saber como funcionava a linha de montagem das enormes barras cilíndricas de gelo. A gro...

Pasta Joia Review - 31

Uma Cafeteria, Três Corações  3 de novembro de 2016   Nos meus sonhos, certa casa vermelha em movimentada esquina da Praça da Savassi continua de portas abertas, vicejando como ponto preferido para encontrar amigos. A Cafeteria – conhecida como Três Corações – virou tradição em apenas nove anos de história, até o precoce fim, no último domingo do outubro de 2006. Seu súbito encerramento de atividades, há uma década, para dar lugar a uma loja de celulares, revelou o quanto eu estava agarrado a uma mesa de tampo de vidro a prensar grãos arábica. Graças à fiel presença no local, quase diária e desde a inauguração, conheci donos, funcionários e dezenas de frequentadores. Apesar da crítica geral à demora no atendimento e à limitada carta de vinhos, minha memória não lista concorrentes afetivos àquele balcão de verve parisiense. Foram vários momentos felizes: bate-papos inesquecíveis, ideias anotadas em guardanapo e confidências exaladas pelo álcool. A Três Corações era o ...

Pasta Joia Review - 30

Passos nus  11 de novembro de 2016 Ele nasceu e andou de pés descalços pelas seis décadas de vida. Não era voto de pobreza ou religião. Simplesmente nunca quis colocar nada nos pés. Ignorando protocolo, Conrado Fargnoli, mineiro de Curvelo, preferiu ser honesto consigo mesmo e professar em público sua crença: proteger-se com calçados é aceitar uma tortura. Salto alto, então, é suplício da vaidade. Sandália castiga menos que bota e, ao fim do dia de trabalho, a primeira coisa que se quer é desarrear. A sensação de alívio ao tirar sapatos, sobretudo se apertados, evidencia aversão natural à peça do vestuário. Calçar agride a natureza humana e essa contradição emerge no divã do podólogo. Muitos buscam o descanso de caminhadas na praia, descalços, deixando pegadas na areia. Outros fazem de chinelos e pantufas terapias. Crente do absurdo de se caminhar pela trilha dos outros, Conrado foi mais longe. Com os pés nus subiu ao altar e desceu ao túmulo. Ignorava consensos para de...

Pasta Joia Review - 29

O ovo da Maricota  21 de novembro de 2016 Os grotões ainda têm muito a dizer sobre a alma mineira. Mas diziam muito mais em tempos menos acelerados. O educador Tião Rocha conta que, no começo dos anos 70, o Projeto Rondon pousou num arraial do Norte de Minas onde viviam famílias de lavradores, padre, farmacêutico, funcionário do Correio e agente ferroviário. Médico? Só uma vez por mês. Naquelas profundezas do sertão, a trupe de enfermeiros, antropólogos e assistentes sociais se encantou com um velho caboclo. Misto de pajé e cacique, Galdino vivia solitário numa casinha de latão. Deitado na rede, ele meditava e dava conselhos a todos sobre tudo, desde como se trata umbigo de recém-nascido. Também fazia previsão meteorológica após checar a “testa da serra”. Vivia da venda de artesanato de barro extraído do chão da morada após a chuva, sem sequer se levantar. “Pra que ir até a vida se ela vem aqui?”, filosofava. O palavreado folclórico do ancião, entrelaçando repertório...

Pasta Joia Review - 28

Clarão misterioso  7 de dezembro de 2016   Após largar o seminário, Vicente Torres se converteu em homem da ciência, sem, no entanto, abandonar a sua fé. Passou a maior parte de sua longa e laboriosa vida em Ibirité, no cinturão verde da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Lá, ele cultivou carreira, família e gerações de admiradores. Meu tio-avô e guru confirmou com seus ensinamentos a vocação hortifrutigranjeira da cidade que o agraciou com o título de “professor” e onde é hoje nome de rua. Tio Vicente ensinava a todos como plantar hortaliças com técnicas precisas e adubo orgânico, sempre honrando a biodiversidade. Era o intelectual que conversava de igual para igual com analfabetos e um ecologista sem radicalismos. Cientista com calos nas mãos e dedos fincados na terra, o educador mineiro singrava os ares com os olhos. Por trás de severos óculos, a figura esbelta e intrépida do meu padrinho colecionou muitas histórias brotadas no convívio com lavradores. Minha ...

Pasta Joia Review - 27

Bar, doce bar  16 de dezembro de 2016 Ronda, de Paulo Vanzolini, é uma das minhas canções preferidas. Ela me transporta à época em que costumava atravessar a urbe, noite adentro, em busca de recantos boêmios para depois embarcar nos sonhos. Essa minha procura interminável passou pelo Mercado Municipal de Floripa, pela avenida São João de Sampa e, sobretudo, pelas ladeiras de BH. Na capital mineira, que “não tem mar, mas tem bar”, alcancei os círculos etílicos mais variados, as mesas mais sorridentes e os garçons mais amigões. Seja com o espírito em festa, seja com os cotovelos doloridos, foi na Belo Horizonte do século passado que encontrei recintos folclóricos para beber, comer e interagir com pessoas. São santuários de uma cultura tipicamente belo-horizontina. Pelo retrovisor de minhas jornadas noturnas enxergo endereços curiosos da capital mundial dos botecos, que espelhavam a personalidade dos donos. O Loureiro’s, da rua Java, no bairro Nova Suíssa, era o espaço criat...