À espera do exemplo

Sílvio Ribas Os crescentes gastos dos turistas brasileiros no exterior — impulsionados pela renda maior e pelo câmbio confortável — já atingiram média mensal de US$ 2 bilhões e parecem longe de perder o fôlego, mesmo com mais impostos para inibir a gastança mundo afora. O Banco Central estima que a conta turismo deve ter fechado 2013 com o deficit recorde de R$ 18,6 bilhões. A percepção de que o Brasil se tornou insuportavelmente caro está evidente na escalada das viagens internacionais, sobretudo para destinos antes dominados pelas sacoleiras de luxo. Até mesmo as autoridades do Planalto sublinham o quão é mais acessível curtir folgas em Miami, nos Estados Unidos, que em Fortaleza. Além disso, está a clara a vantagem de comprar tudo lá fora, de cueca a tablet. Muitos embarcam só com a roupa do corpo, tal é a avidez por adquirir e até revender artigos bons, bonitos e baratos. As malas cheias denunciam a perda de competitividade da indústria nacional e a enfraquecem ainda mais. Para completar o quadro, até mesmo os expedientes de servidores federais no exterior têm ajudado a evidenciar diferenças de custos internos e externos. O maior exemplo de zelo com o dinheiro público e com as divisas deveria ser da Presidência. Mas é dela que vem o sinal em favor de gastos abusivos em viagens. Apesar dessas despesas estarem protegidas pelo sigilo, a imprensa revelou numerosas comitivas da presidente Dilma Rousseff, sempre hospedada nos endereços mais caros. Em Roma, em razão da posse do Papa Francisco, foram muitos veículos alugados e nenhum quarto ocupado na embaixada brasileira, um dos mais bem localizados prédios da capital italiana. Até mesmo agentes de governos visitados pelas autoridades do país, encarregados da organização de eventos diplomáticos e na recepção de autoridades estrangeiras, ficam intrigados com essa movimentação de gente do governo brasileiro. Saltavam aos olhos deles as sacolas de grife com o pessoal em missão. Um bom começo para mudar tais hábitos seria dar maior transparência aos gastos das autoridades. Embora frequentemente se alegue que o detalhamento das contas esbarra em questões de segurança, esse critério não pode se sobrepor ao interesse público e ao respeito com o dinheiro do contrinuinte. Fonte: Correio Braziliense - 02/01/2014

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