Ainda a Itacolomi

BH reinventou a TV

Sílvio Ribas
(Artigo publicado originalmente na revista eletrônica Zapp, da Prefeitura de Belo Horizonte)

O já histórico e mineiro 21 de abril também marca a data da primeira transmissão televisiva em Minas Gerais. Naquela tarde de 1955 uma câmera RCA TK 31 focalizou e gerou em circuito fechado a imagem do relógio da Igreja São José, nesta capital, que registrava 2h55. Dois meses depois, em 25 de junho, os lares e casas comerciais de Belo Horizonte finalmente teriam seu contato inaugural com uma novidade até então há cinco anos no País: o televisor. A emissora era a TV Itacolomi, canal 4.

A inauguração da Itacolomi - canal de televisão pioneiro no estado e o terceiro a surgir no País, criado pelo dono dos Diários e Emissoras Associados, Assis Chateaubriand - representou o início de uma saga, repleta de conquistas e derrotas, a maior destas representada pelo seu fechamento. Do alto do Edifício Acaiaca, a torre da emissora transmitia de clássicos da música, teatro e dança até uma animada tarde de competições estudantis. Reminiscências de uma emissora que revelou talentos como Lady Francisco, José Mauro Gonçalves (o trapalhão Zacarias) e Clara Nunes, e por onde passaram estrelas como Flávio Cavalcanti e Armando Bogus.

Nos 80 metros quadrados do estúdio da Itacolomi foram veiculados mais de mil produções em um palco por onde passou mais de 100 artistas da própria casa. A invenção de uma arte dramática adaptada à moldura da telinha impulsionou o teatro em BH, fomentando a abertura de casas de espetáculo e de espaço para novos artistas. Havia na cidade algo inacreditável para os dias de hoje: um meio artístico de televisão, com galãs e estrelas convivendo com a sua comunidade.

O risco desta história ficar fora do ar tornou-se cada vez mais evidente nos últimos anos. A criação, contudo, do Centro de Referências Áudio-Visuais (CRAV), pela Prefeitura de BH, assegura o refúgio institucional para essa história ser conservada. No futuro, o cidadão, da mesma forma que o telespectador da Itacolomi no passado, poderá partilhar um pouco da aventura do "viajante da poltrona", que se diverte com a "Escolinha da Dona Peteca", inspiradora de outro famoso programa humorístico, depois se emociona nas peças do "Grande Teatro Lourdes" e assiste nos domingos a Universidade Popular da Manhã, primeiro telecurso da televisão brasileira.

Mesmo desconsiderada pelos estudiosos do tema no Rio e São Paulo, inclusive biógrafos de Chateaubriand, o momento é de reabilitação dessa importante personagem na historiografia da TV no Brasil. Tardia, a recuperação dessa história, nos enche de esperança de que, finalmente, as realizações técnicas e sócio-culturais e artísticas da Itacolomi possam ser preservadas e divulgadas. Belo Horizonte teve uma televisão com personalidade, que serviu de escola para o insipiente meio de comunicação, e isso orgulha a cidade, o estado.

A Itacolomi passou por uma "fase de ouro" (1955 a 1964), representada pelo criativo "período heróico", de variada programação cultural e "ao vivo". Houve em seguida um tempo intermediário (1964 a 1972), no qual a produção artística da Rede Tupi se transferiu para São Paulo e conseqüente aumento da programação nacional. A emissora investiu em ousados projetos de infra-estrutura e tecnologia, enquanto decaiam em definitivo as emissoras concorrentes criadas na fase anterior.

O último capítulo da vida da "Pioneira" (1972 a 1980) pode ser caracterizado pelo auge da sua cobertura esportiva e pela crise financeira dos Associados, levando ao cancelamento das concessões de suas TVs. O fechamento da Itacolomi junto com a Rede Tupi na manhã de 24 de julho de 1980 gerou surpresa e protestos.


CURIOSIDADES

O programa que ficou mais tempo no ar da TV Itacolomi foi "A Missa Dominical", que começou desde a sua fundação.

Glória Lopes (hoje na Rádio Itatiaia) e Antonio Naddeo foram os responsáveis pelo primeiro beijo da televisão em Minas.

Segundo o IBOPE, em novembro de 1972, a TV Itacolomi contava com 74,15% da audiência no horário nobre, das 18 às 22 horas.

O show de calouros do programa "O Mundo Colorido de Fernando Sassso" ajudou a revelar muitos artistas como Beto Guedes.

Inspirado na "Invasão dos Mundos", de Orson Wells, certa peça da Itacolomi foi "invadida" por um marginal que queria confessar um crime perantes as câmeras. A Polícia chegou a cercar o Edifício Acaiaca.

O nome oficial da TV Itacolomi era S/A Rádio Guarani. E até determinada época, o nome da emissora se escrevia com "y".

O simpático personagem-legenda do canal 4 era o indiozinho Curumim.

No formato de revista de domingo, o Show Motorauto pode ser considerado um precursor do "Fantástico".

O jornal Bancominas, que foi o mais tradicional telejornal de Minas, era apresentado por Luiz Fernando Peres e Jaime Gomide e trazia, além das notícias, receitas de bolo e horóscopo.

A programação ao vivo, ponto alto da Itacolomi, seria inviável nos tempos de hoje não por capacidade, mas por custos.

Comentários

PEDRO PAULO SALOMÃO disse…
Sou Pedro Paulo Salomão,meu contato é: pedro.paulosal@ig.com.br - pseudônimo artístico; Pedro Lecuona com vários clips no youtube cantando. Cantei na TV Itacolomi, no programa do Belmonte e sua mulher Escolinha da Dona I Peteca, levado ao ar ao vivo nos domingos às 10;00 horas da manhã, junto com Wilson Miranda, Clara Nunes, Wilson Orsini e outros. Foi patrocinado pela extinta Casa Fidajo, uma loja de eletrodomésticos da capital. Os acompanhamentos eram, do pianista Maklerewski (desculpem se a grafia não está correta), e do baterista Serrinha (que me lembro). Tem uma historinha interessante; Clara era alegria pura, e linda de morrer. Então, para azucrinar, vestia uma saia justa e, na hora do ensaio sentava-se sobre o piano e cruzava as pernas. O coitado do Maklerewski, já velho e careca, ainda conseguia perder uns fios de cabelo, que nem mais existiam, e morríamos de rir. O Wilson Orsini e eu, brigávamos para ver quem melhor imitava Greorio Barrios, o rei do bolero, grande ídolo à época. Num desses domingos, para minha surpresa, deparei-me com Moacir Franco se apresentando junto com a gente, estava no início do seu sucesso."Velhos tempos... Belos dias..." Abraços, Pedro Paulo Salomão.
Anônimo disse…
OS vídeos tapes dos jogos de Domingo a noite e programa Bola na Área, paravam BH para vê-los. A programação semanal também era fantástica, enfim, uma pena a TV Itacolomi não TER VINGADO...assim como a Rede Manchete...uma pena !!