Luto na cultura curvelana


Ulisses Lopes da Silva (1920-2010)

por Newton Vieira

Está de luto a cultura curvelana. Morreu aos 90 anos, no Rio de
Janeiro, onde teve seu corpo cremado, o escritor, poeta, advogado,
jornalista e professor Ulisses Lopes da Silva.
Ulisses nasceu em Curvelo (MG), a 20 de maio de 1920, filho de Ulisses
Lopes da Silva e Áurea Augusta de Souza. Casado com Marina Carneiro
Lopes, deixa os filhos Ângelo Antônio (ator da Rede Globo), Paulo
César (doutor em Literatura pela USP e escritor) e a nossa querida
Soraia.
Ulisses Lopes da Silva dedicou grande parte de sua vida à educação e à
cultura dos cur velanos. Diretor-supervisor da Rádio Difusora de
Curvelo (1948), antecessora da Rádio Clube AM. Secretário do "Jornal
de Curvelo" na década de 1950. Orientou a criação e a elaboração do
informativo "Voz Estudantil", na Escola Técnica de Comércio do Colégio
Padre Curvelo, da qual foi um dos fundadores e um dos professores
durante muitos anos. Foi também orientador do jornal "A Juventude", na
segunda fase do periódico. Sempre demonstrou espírito crítico e
combativo. Enfrentava com coragem os poderosos na defesa dos humildes
e desprotegidos. Nessa linha, escreveu para "O Monumento", de Nilson
Gonçalves, e manteve em "O Regional", de Hernan Yves Duarte, a coluna
"Daqui, dali, de toda parte". Colaborou ainda nas páginas de CN. Usava
o pseudônimo de Odisseu (Ulisses, em grego). Na Academia Curvelana de
Letras, fundou e ocupou a Cadeira cujo patrono é o professor e poeta
Ricardo de Souza Cruz, o Lú cio Régis.
Meu agora saudoso amigo militou na política, identificando-se
ideologicamente com a esquerda. Membro do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB), foi vereador em Curvelo, de 31 de janeiro de 1951 a
31 de janeiro de 1955. Era eleitor declarado do presidente Lula.
Ulisses segue rumo à eternidade com a consciência tranquila. Cumpriu
seus deveres, honrou sua família, dignificou a terra natal.
Nós, do lado de cá, é que sofreremos, cheios de saudade. Não ouviremos
mais aqueles discursos imponentes, não receberemos mais aquelas lições
plenas de sabedoria e beleza, não nos deleitaremos mais com aquelas
prosas engraçadíssimas, regadas a cerveja, após as reuniões da
Academia. Eu delirava com as informações sobre os bastidores da
sociedade e dos eventos históricos. Vocês nem imaginam o quanto o
convívio com mestre Ulisses me enriqueceu!
Mas ele continuará a viver nas premiadas atuações de Ângelo Antônio,
no estilo terso de Paulo César, na doçura de Soraia, na abertura de
dona Marina ao transcendente, no balé de sua irmã Elisa Lopes, em cada
coração devotado à arte, à cultura, à educação e aos menos
favorecidos...
O exemplo de Ulisses Lopes há de ficar como um punhal suspenso sobre a
cabeça dos enganadores do povo. Ah, isso vai!...
Tenho certeza de que, ao bater à porta do Céu, o grande curvelano
ouviu de São Pedro palavras semelhantes às ouvidas por Irene, no
poema de Manuel Bandeira:
__ Pode entrar, Ulisses. Você não precisa pedir licença, não!

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