Galo forte vingador


Ser Atleticano – Roberto Drummond

Feliz daquele que teve um dia na vida a oportunidade de torcer nas arquibancadas do Mineirão para o Clube Atlético Mineiro!!! Feliz daquele que teve um dia na vida a oportunidade de ouvir a narração de um gol do Galo na rádio Itatiaia pelo Willy Gonser ****até mesmo pelo Alberto Rodrigues**** Feliz daquele que desde criança sabe que sempre após um barulho de fogos de artifício, sempre se ouvirá algum apaixonado a gritar GALO!!! Feliz daquele que sabe que um dos grandes poetas e escritores mineiros, Roberto Drumond, traduz sua paixão pelo futebol e porque não pela vida em sentimentos que milhões se orgulham de carregar no peito, o coração alvinegro das Alterosas!!! Feliz daquele que tem amigos que mandam essas mensagens sobre o Galo para quem está longe e há mais de 1 ano não sabe o que é pisar no Mineirão, cantar o hino, pular feito louco, saborear um tropeiro e beber uma cerveja semi-gelada, só para ver o Galo jogar!!! Isso é que é torcer por um time! Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento. Ah, o que é ser atleticano? É uma doença? Doidivanas paixão? Uma religião pagã? Benção dos Céus? É a sorte grande? O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel e amar o Galo sobre todas as coisas. Daí, que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo. Cheira ao suor da mulher amada. Cheira a lágrimas. Cheira a grito de gol. Cheira a dor. Cheira a festa e à alegria. Cheira até mesmo a perfume francês. Só não cheira a naftalina, pois nunca conhece o fundo do baú, tremula ao vento. A gente muda de tudo na vida. Muda de cidade. Muda de roupa. Muda de partido político. Muda de religião. Muda de costumes. Até de amor a gente muda. A gente só não muda de time, quando ele é uma tatuagem com as iniciais CAM, do Clube Atlético Mineiro , gravada no coração. É um amor cego e têm a cegueira da paixão. Já vi atleticano agir diante do clube amado com o desespero e a fúria dos apaixonados. Já vi atleticano rasgar a carteira de sócio do clube e jurar: – Nunca mais torço pelo Galo. Já vi atleticano falar assim, mas, logo em seguida, eu o vi catar os pedaços da carteira rasgada e colar, como os amantes fazem com o retrato da amada. Que mistério tem o Atlético que, às vezes, parece que ele é gente? Que a gente o associa às pessoas da família ****pai, mãe, irmão, tio, prima****? Que mistério tem o Atlético que a gente o confunde com uma religião? Que a gente sente vontade de rezar ****Ave Atlético, cheio de graça?**** Que a gente o invoca como só invoca um santo de fé? Que mistério tem o Atlético que, à simples presença de sua camisa preta e branca, um milagre se opera? Que tudo se alegra à passagem de sua bandeira? Que tudo se transfigura num mar preto e branco? Ser Atleticano é um querer bem. É uma ideologia. Não me perguntem se eu sou de esquerda ou de direita. Acima de tudo, sou atleticano, e nesse amor, pertenço ao maior de partido político que existe: O Partido do Clube Atlético Mineiro, o PCAM, onde cabem homens, mulheres, jovens, crianças. Diante do Atlético todos são iguais: o bancário pode tanto quanto o banqueiro, o operário vale tanto quanto o industrial. Toda manhã, quando acordo, eu rezo: obrigado, Senhor, por ter me dado a sorte de torcer pelo Atlético. Saudações atleticanas!

Não digam que eu sou branco. Que eu sou negro. Que eu sou amarelo. Que eu sou vermelho. Branca e preta é a minha pele e o Atlético é o sonho meu. Se eu procurar o amor e disserem que o amor morreu. Se tentar cantar e souber que a canção acabou. Se for trabalhar e falarem que eu não tenho mais trabalho. Se eu procurar meu pai e informarem que meu pai morreu. Se procurar pela mãe e falarem: sua mãe morreu. Se chamar pela moça amada e for em vão minha procura. Se sentir sede e não houver mais água. Se tudo for assim, mesmo sem uma canção, ainda assim cantarei e gritarei: Galo. O Atlético é como o pai da gente. É água na hora da sede. É o ombro amigo onde você pode desabafar suas mágoas. Se me mandarem para uma ilha deserta, ainda assim eu não estarei só, porque o Atlético vai comigo. Se eu for pra China. Se for pra Conchinchina, Coréia ou Japão. Em lugar algum, cercado de estrangeiros, eu me sentirei só porque o Atlético vai comigo. O Atlético me ensinou a amar o mundo. Viva o Campeão do Gelo. Viva o Atlético de todos os times. Viva o time de Kafunga, Murilo e Ramos (depois Osvaldo), viva o grande Mexicano, um viva pra Zé do Monte, e Silva (que morreu tuberculoso), viva Carango, depois Afonso Bandejão. Com Lucas, que fazia gols ao apagar das luzes, escrevo esta crônica. Prossigo com Lauro, que ainda vive, com o meu herói e amigo Carlaile e seus gols de bicicleta, com Lero (depois Alvinho) e Nívio, que era de Santa Luzia, eu sigo em frente. Não sou do PT, nem do PSDB, nem do PPS ou PC do B. Do PFL eu não sou. Eu amanheço Lula e anoiteço Serra. Fico indeciso em quem votar. Só o Atlético é minha verdade. Amo a moça loura. Amo a morena. A moça negra eu amo. Mas a moça alvinegra é que mora no meu coração. Já mudei de tudo neste mundo. Mudei de cidade. Mudei de partido político. Mudei de religião e ao catolicismo voltei. Já fui ateu e acreditava em Deus. Coisa de mineiro. Mudei de casa. Mudei de amor (e a uma mulher morena voltei). Eu só não mudei de time: faça sol ou faça chuva, anoiteça ou amanheça, na alegria e na dor, eu só não mudei de time. O Atlético é meu café da manhã. É o cigarro que não fumo. É o sono que eu não durmo. É minha insônia e minha canção. É meu primeiro e meu último amor. Eu sou como o atleticano. Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.

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