Os bares “cult” de BH

Sílvio Ribas

No tema “a cidade que a cidade não vê” podemos incluir os bares mais “cult” de Belo Horizonte, que, infelizmente, são ilustres desconhecidos de quem deveria conhecê-los: artistas plásticos, intelectuais, jornalistas e outras figurinhas da noite. Resta apenas “puglar” tais locais ao seu presumível público-alvo.

Quatro exemplos – retratos fiéis da excentricidade de seus donos – ilustram bem a tese de que a jornada etílica nesta capital centenária pode nos surpreender tanto quanto metrópoles do tipo Sampa e Rio. Enfim, aí está uma pauta quentíssima, que pode gerar muitas fotos e fatos legais e que intrigará como é surpreendente ninguém ter feito tal reportagem até hoje, depois de tanta matéria glorificando BH como “capital mundial dos bares”.

O primeiro e maior dos “cases” propostos, o Loureiro's Bar, da rua Java, na Nova Suíça, já teve muitas configurações criativas. Ponto de interseção entre o lar da família Loureiro e um estabelecimento comercial, a decoração é divertidamente bizarra. Para apenas citar alguns dos ornamentos do bar, lá tem uma piscina (!) dentro.

Nas paredes, retratos antigos, uma cabeça de boi empalhada, símbolos religiosos, mapas escolares, jogos de espadas medievais, entre outras tralhas. Do teto partem frascos plastificados e mensagens moralistas pintadas em vidro. Isso tudo sem contar o cardápio e os costumes nada comuns dos anfitriões, que servem pizza em prato fundo ou podem trazer da geladeira o arroz do jantar.

A fachada não assusta com seus grandes copos de chope em fibra de vidro. Na entrada, a garagem do dono fica ao lado de banheiros unissex, que têm cortinas de contas. Loureiro, o dono, com seu visual “junkie” parece ter chegado da Woodstok nos anos 60 para revelar muitas histórias e as razões de fazer de sua casa-bar um espaço absolutamente exótico. Ah! A churrasqueira do Loureiro’s tem até nome: “Boi nos Aires”.

Encontra-se para vender no local garrafas de pinga e um telefone sem fio pode ser emprestado para ligações locais dos clientes. Um misto de casa com estúdio do programa “Perdidos na Noite”, apresentado por Faustão na Band, Loureiro’s está geograficamente oculto e padece de uma preocupante síndrome do baixo movimento, que poderá forçar o fim de suas atividades.

Outro exemplo é o Pit Bull Café, ambiente francamente “underground” recentemente inaugurado pelo seu dono, o italiano Sergio, de visual roqueiro. Afora a grande bandeira da Itália, o espaço é decorado com poucas trabalhos modernos de artes plásticas e símbolos da cultura americana e inglesa, como Queen e Batman. O Pit Bull tem como emblema o cão que leva o seu nome. Aliás, alguns representantes dessa raça canina “serial killer”, originária da Europa, chegam a circular pelo ambiente. Quem trabalha lá garante que a violência do bicho é intriga da oposição.

Outro bar-cabeça: o Obladi. O “gancho” só pode ser a Beatlemania. O local tem tudo para ser cult: é o último bar do quarteirão do Lulu, na rua Leopoldina. Como o próximo nome sugere, não é aconselhado falar mal dos “Fab Four” no recinto sob pena de ser repreendido por Roberto, o dono. Seus freqüentadores têm a opção de levar seus próprios CDs para serem tocados. O tira-gosto do Obladi é Obladá de bom. Mais alguma sugestão?

Localizado na Praça Estevão Lunardi, no Horto (próximo ao Estádio Independência), temos ainda o Chef Túlio. O proprietário, que empresta o nome ao estabelecimento, é um figuraça. Trajado de bermuda, brinco e indumentária de chefe de cozinha (gorro e capote branco, lembrando personagem da “TV Colosso”), tem profunda cultura culinária. O chef desse inusitado “International Gourmet Restaurant” apresenta pratos engraçados até no nome: lulas crocantes, frango mafioso e por aí vai...


PS: pauta escrita em meados dos anos 1990

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