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Mostrando postagens de agosto, 2013

Malthus e além

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Sílvio Ribas Poucas teorias econômicas geraram tanto comodismo quanto à forjada pelo britânico Thomas Malthus (1766-1834). Também nunca uma ideia foi tão desbancada pelos fatos como a dele. “Os meios de subsistência crescem aritmeticamente enquanto as populações crescem geometricamente”, era a frase célebre para resumir seu pensamento. O pai da demografia acreditava que barreiras às taxas de natalidade e à longevidade eram bem-vindas como forma de garantir certo equilíbrio entre a inevitável escassez de recursos e a expansão do contingente populacional. Corta para 2013. Duzentos anos depois dos ensaios malthusianos, temos um admirável mundo novo que teima em desmentir o apocalipse econômico, com seus 7 bilhões de habitantes e a ascensão generalizada da classe média nos países até então periféricos. A fome e o desemprego continuam presentes e ainda se somam ao risco de uma exaustão dos bens naturais caso o consumo desenfreado não seja contido. Mas os efeitos benéficos da revolução ...

A terra é quadrada

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Sílvio Ribas Sonhei que a esta altura da história velhas torpezas humanas como racismo, machismo, homofobia e perseguição religiosa seriam coisas enterradas no passado. Mas o novo milênio ainda não conseguiu derrotar o medo e a ignorância que nos fazem intolerantes com o outro. Os absurdos que temos visto nos últimos dias, potencializados pelas redes sociais, deixaram evidentes o fato de que a Terra ainda é quadrada, ressuscitando aqui uma nostálgica gíria para nomear coisas carrancudamente ultrapassadas. Se o indivíduo espalhafatoso pode parecer ridículo, a caretice desinibida de hoje chega a ser tragicômica. Outro dia foi a vez de Oprah Winfrey, a bilionária rainha da tevê norte-americana, reclamar de preconceito racial e social em Zurique, na Suíça. A balconista de uma loja de luxo teria sugerido que a estrelaafrodescendente não tinha condições financeiras de levar para casa uma peça muito cara. Em outra parte do mundo, uma jovem iraniana foi proibida de assumir o cargo de ver...

Indústria cabocla 3

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SÍLVIO RIBAS Enviado especial Anápolis (GO) A riqueza do distrito industrial de Anápolis (GO), que é responsável por 11% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, se contrasta com as ruas empoeiradas e a vida miserável das comunidades que vivem ao largo de grandes fábricas. Em frente à maior delas, a montadora de veículos Hyundai, dezenas de milhares moram em casas humildes e são atendidos por serviços públicos precários. Alguns desses cidadãos disseram ao Correio que esperavam uma contribuição social maior das empresas que receberam expressivos incentivos fiscais nos últimos anos. Eles apontam ainda como benefício dos investimentos produtivos o elevado nível de ocupação da mão de obra local, com reflexo positivo no controle da criminalidade, e na excepcional valorização dos terrenos. “Essa fábrica não mudou em nada a minha vida”, afirma Simone Messias, 41 anos, vizinha de porta da Hyundai, separada dela apenas por uma faixa de terra batida onde circulam carros e ônibus. Ela se quei...

Indústria cabocla 2

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SÍLVIO RIBAS Enviado especial Itumbiara (GO) Quem chega à próspera Itumbiara, no Sul de Goiás, não tem dúvidas da importância do campo e da agroindústria para a economia local. Os gigantescos armazéns de grãos e as imponentes usinas de açúcar e álcool abraçam toda a cidade. No seu comércio local, as empresas dedicadas ao agronegócio parecem inspiradas na pujança do interior paulista e no Triângulo Mineiro mas ainda convivem com nomes nostálgicos, como Açougue do Careca e Alfaiataria do Bigode. É nesse cenário que o setor automotivo fincou recentemente uma bandeira e deverá impulsionar a tendência de diversificação da indústria no interior do país. A montadora japonesa Suzuki constrói a toque de caixa uma ampla unidade na cidade que representa o terceiro vértice do triângulo metal-mecânico de Goiás, juntamente com Anápolis e Catalão. Foram investidos R$ 150 milhões e a expectativa é que a mudança das instalações provisórias em Itumbiara para a definitiva, vizinha de grandes indústrias...

Uma indústria cabocla

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SÍLVIO RIBAS Enviado especial Catalão (GO) O sol nem tinha saído e Tiago Pereira da Silva já estava ao volante de um trator da fazenda do patrão. Ele acordava às três da madrugada, poucas horas após ir dormir, à meia noite, vindo da maior escola pública de segundo grau em Catalão (GO). O metalúrgico de 28 anos hoje comemora o resultado do seu sacrifício para trocar a incerta e mal remunerada labuta no campo pela carreira no chão de fábrica. No começo de 2006, tão logo alcançou a maioridade plena e a escolaridade mínima exigida pela Mitsubishi, montadora de automóveis instalada em seu município desde 1998, deixou a roça e melhorou de vida. Os empregos dessa indústria cabocla atraem cada vez mais gente da zona rural e menos do comércio e dos serviços, em razão da recente subida do custo de vida, sobretudo de aluguéis, puxada pelas grandes empresas que ainda continuam chegando. “No meu caso, o esforço valeu a pena”, suspira Silva, representante do grupo cada vez maior de operários oriun...

Judicialização

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Sílvio Ribas As respostas que o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ao longo dos últimos 10 anos para preencher lacunas deixadas pelo Congresso Nacional foram interpretadas pela maioria dos parlamentares como protagonismo exagerado e invasão de competência de poderes. Sem considerar eventuais falhas dos ministros da mais alta Corte do país, o fato é que o julgamento deles sobre determinados temas polêmicos representa ponto final para muitas discussões e reação da República aos impasses gerados pela guerra de interesses contrários. Mas um fenômeno que deveria ser mais bem acompanhado pela academia e debatido pela sociedade dentro da judicialização da vida brasileira é o formado pelos crescentes despachos feitos no varejo das demandas sociais, por juízes de instâncias inferiores e pelo Ministério Público, sempre com efeito imediato e irrevogável. O imobilismo do Poder Executivo, de autarquias e outros órgão públicos gera grande ansiedade e até desespero de cidadãos que buscam no Estado...

Reviravolta virou regra

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Sílvio Ribas Toda vez que me sentia amuado em razão de problemas pessoais ou profissionais meu pai me consolava com a frase Desde a derrocada do comunismo soviético, os profetas do “fim da história”, como Francis Fukuyama, têm sido calados pelos fatos. Se considerar então o papel das redes sociais nas transformações e viradas de jogo, a estória está apenas começando. Nesses ciclos cada vez mais curtos, não se espante se a gente ver a China se transformando na maior democracia do planeta, com a fiscalização on-line de milhões de pessoas. Essa seria a mãe de todas as reviravoltas. Fonte: Correio Braziliense de hoje

De yuppie a excluído

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Por Silvio Ribas Meu jovem, aproveite a vida porque você tem o mundo inteiro pela frente. Além do mais, você tem a vantagem mais cobiçada pelas pessoas que batalham no mercado de trabalho: futuro. É com essa mensagem que tento desarmar as ansiedades e as irritações de profissionais em início de carreira quando sou consultado por algum deles. Peço que lutem pelos seus sonhos, se apaixonem pela sua profissão e, pelo amor de Deus, não gastem energia demais com as pequenas frustrações rotineiras no horário de expediente. Entretanto, meu discurso de animador de auditório vem trombando com uma radical mudança de realidade social, econômica e demográfica, em curso desde os anos 1980. Naqueles tempos de estagnação brasileira, de intimidade com a inflação e de transição no plano global do auge da guerra fria para completo desmantelamento dela, os jovens protestavam como podiam. Mas também disputavam todas as chances de vencer na vida com entusiasmo e as regras do momento. Foi naquela criativ...