Os meus papas

 

A fé que move montanhas faz um homem ser o líder espiritual de um bilhão de fiéis. Para outra parcela expressiva da humanidade ele é um mensageiro da paz em tempos de intolerância. Francisco, esse pastor que se ergue na simplicidade, foi o papa do divino mistério de ser também nosso irmão. Morreu neste 21 de abril, deixando um legado que se estende muito além das fronteiras da Igreja.

O argentino Jorge Bergoglio fez história já no primeiro minuto do pontificado ao se dizer pecador, fazer piada com o conclave e pedir orações. Depois vieram declarações, encíclicas e gestos dignos de representante do Criador, abraçando os que mais sofrem. Também carregou, como todo homem, suas contradições: humanamente falho, não esteve no Brasil para celebrar os 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, ausência interpretada como rancor político.

Com mais de meio século de batizado na Igreja Católica Apostólica Romana, me regozijo por ter sido conduzido por cinco notáveis sucessores de Pedro. Lembro-me da imagem de Giovanni Montini, o Paulo VI, se deslocando numa liteira. Minhas tias-avós de Curvelo tinham santinhos desse bispo de Roma, cujo reinado (1963-1978) inaugurou as viagens papais ao exterior.

Recordo também de Albino Luciani, o João Paulo I, que ficou só 33 dias no trono. A morte precoce do chamado “papa sorriso” abriu cortinas para a estreia de Karol Wojtyla. João Paulo II, um polonês corpulento e com histórico de atleta, beijou a pista de mais de 100 aeroportos, ajudou a derrubar o bloco soviético e até sobreviveu a um atentado (1981).

Carismático e conservador, João de Deus, como foi chamado no refrão da música da sua primeira visita ao Brasil, lutou até o fim contra devastador mal neurológico. Alcançou em vida terrena popularidade sem precedentes, sobretudo entre os jovens, e chegou ao panteão dos santos, canonizado em 2014.

Quem o sucedeu, em 2005, foi Bento XVI, o intelectual alemão Joseph Ratzinger, escolhido aos 78 anos. Em fevereiro de 2013, pela primeira vez em 700 anos, Sua Santidade abdicou ao papado por não ter forças para enfrentar a corrupção na Cúria. Bento XVI faleceu em 2022, após anos discretos como papa emérito, dedicados à oração, à música de Bach e à escrita de profundos ensaios teológicos.

Hoje, rezo e agradeço pelas bênçãos desses homens muito distintos em estilo, mas igualmente grandiosos em espírito — que ajudaram a conduzir nossa barca em mares tão revoltos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise antevista

Guerra fiscal

Baú genealógico