TPP: Brasil isolado

Sílvio Ribas

O comércio global é um jogo que nunca deixou de ser jogado, tendo como jogadores países grandes e pequenos economicamente, mas todos empenhados com igual vigor para abrir espaços e caminhos para vender suas mercadorias.

Nas últimas décadas, essa disputa em escala internacional se intensificou como nunca, apesar de todos impasses para construir acordos multilaterais mais amplos. O Brasil, contudo, parece não ter despertado para essa realidade que o afeta cotidianamente.

As capas dos jornais destacam hoje o anúncio feito ontem da chamada Parceria Transpacífica, o acordo histórico firmado entre Estados Unidos, Japão e outros 10 países, com perspectivas de perdas para as exportações do Brasil e de ampliação do seu isolamento.

Após sete anos de intensas negociações, a Parceria Transpacífica ou TPP, na sigla em inglês, avança para além da derrubada de tarifas e de barreiras não-tarifárias. Ela aponta também para novas regras comerciais baseadas na produção sustentável e no respeito à força de trabalho.

Esse movimento envolvendo mercados que somam 40% da economia global ocorreu em paralelo a outros, como o que trata de negociações entre União Europeia e Estados Unidos, para criar a maior zona de livre comércio do mundo.

O Brasil, por sua vez, continua sendo uma economia fechada e indiferente ao jogo do comércio global, preferindo buscar acordos bilaterais com países pouco expressivos e centrados no Mercosul, em vez de se associar aos maiores mercados compradores.
Enquanto o México tem mais de 30 acordos de livre comércio celebrados, o Brasil, maior economia latino-americana, tem apenas três: Israel, Palestina e Egito.

A globalização é uma realidade já há décadas, mas o país continua insistindo na tese de crescimento econômico baseado só na substituição de importação. Nesse sentido, o Mercosul é um obstáculo extra ao se configurar numa burocracia que atrapalha mais do que ajuda os negócios.

Qualquer indicador que utilizamos para avaliar a inserção do Brasil no comércio internacional revela que o país perdeu oportunidades em série e tempo precioso.

O comércio exterior representa menos que 20% da economia brasileira e a participação do país no comércio global é de só 1,2%, menos da metade dos percentuais obtidos por emergentes como Rússia e México.

A pauta brasileira de exportações segue concentrada em poucos produtos primários com baixo valor agregado, como soja em grão e minério de ferro, deixando o país vulnerável às oscilações de preços internacionais de commodities e ao ritmo da demanda chinesa.

A falta de abertura e os persistentes erros da política comercial do país vai além do âmbito macroeconômico e chega ao nível empresarial. O número de empresas exportadoras no Brasil é de apenas 20 mil.
Ademais, as exportações do país estão concentradas em poucas empresas: só 1% delas respondem por 60% dos volumes exportados pelo país.

No ano passado, o Brasil exportou US$ 54 bilhões para os 12 países envolvidos na TPP e importou US$ 60 bilhões. Só em manufaturados foram US$ 31 bilhões exportados, 35% do total de vendas externas do país, e US$ 47 bilhões importados. A perspectiva de tornar o produto brasileiro menos atrativo para o novo bloco devido às tarifas aplicadas a terceiros já está em curso.

O tratado liderado pelos Estados Unidos e do qual também fazem parte nossos vizinhos Chile e Peru é visto como um marco na tendência de acordos regionais e dá o sentido de urgência às discussões do setor privado brasileiro sobre a necessidade de maior integração do país à economia global.

Ficar de fora dos mega-acordos aprofundará o atraso brasileiro. Estamos, por exemplo, de costas para as oportunidades acenadas pela Ásia, a mais populosa e promissora região do planeta.

O século 21 é o século do Oceano Pacífico, como prenunciou o ex-secretário de Estado norte-americano John Hay, ainda no século 19. Há mais de 100 anos ele cunhou a seguinte expressão: “O Mediterrâneo é o oceano do passado, o Atlântico é o oceano do presente, mas o Pacífico será o oceano do futuro”.

É o que está se confirmando na prática. O Oceano Atlântico começou a perder sua liderança já nos anos 1970, com o florescer dos gigantes asiáticos, começando pelo Japão, seguido pela China, Coreia e Índia. O comércio está no sangue das populações asiáticas.

Nosso país tem perdido relevância a olhos vistos, até mesmo aqui em nossa região, e a capacidade de buscar livremente novos mercados para nossas exportações mundo afora, sobretudo numa quadra como essa, em que o mercado brasileiro está sendo desafiado por uma conjuntura econômica com reflexos sociais muito graves.

 

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