Caiu na conta

Por Sílvio Ribas A frase mais ansiada por milhares de servidores do governo do Distrito Federal nesse começo de ano mostra bem o quão longe a irresponsabilidade fiscal pode chegar. Isso tudo sem falar das filas em hospitais e do adiamento do calendário escolar. A minha esperança, contudo, é que, logo após funcionários ouvirem de colegas ou da imprensa o tão esperado “Caiu na conta!” pela primeira vez e também quando isso voltar a ser rotina, caia a ficha do povo sobre as razões de tanto sofrimento com salários e outros pagamentos atrasados. Gastar o que arrecada e somente o que arrecada, incluindo empréstimos tomados à luz do planejamento, é o mínimo a exigir do gestor público. Para o contribuinte, o mínimo que se espera é que ele exija bom uso dos pesados impostos pagos e saiba identificar qual gestão fez isso e qual não fez. Mas como estamos no Brasil, onde o surreal invade todas as instâncias de poder e da disputa política, essas duas premissas parecem ter dificuldade de amadurecer. Basta ver a desenvoltura com que governantes chamam as contas públicas arrumadas da administração anterior de “herança maldita” e os que já saíram deixando rombos ao sucessor, evocam “heranças benditas”. A mentira desavergonhada nesses dois casos insulta a inteligência do público, mas, de tanto repetida, acaba até dando o resultado esperado pelos mentirosos. Para completar isso, temos as limitações da Justiça e a militância quase religiosa dos defensores dos malfeitores da República. Enquanto perdurar o discurso falacioso em torno da coisa pública, continuaremos assistindo ao disparate de políticos com mandato desfilarem livremente pelo país e ameaçados de prisão no exterior ou de ministros francamente patrimonialistas tomarem posse em função de cotas partidárias do governo de coalizão. Tem muita ficha para cair até que o dinheiro público passe a cair com regularidade nas contas certas e não nas erradas. Não é por acaso que o trabalho do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenha uma demanda simbólica tão ou mais importante que os cortes de gastos e aumento de impostos em preparação por ele. Se não criar barreiras aos desvios e abrir as portas do racionalismo, o país pagará cada vez mais caro pela lambança ética. Por isso, quando chegar a hora de votar, o eleitor terá de se lembrar dos momentos bons e ruins que teve na relação com os serviços estatais. E mais: identificar quem foi o responsável por eles. Fonte: Correio Braziliense de 15 de janeiro de 2015

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