Arrocho nas mãos de Levy

Por Sílvio Ribas O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, iniciou ontem, oficialmente, o seu desafiador trabalho à frente da equipe econômica do governo. Com a missão de garantir o sucesso do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o economista não chegou a causar surpresas em suas declarações, nas quais reafirmou a promessa de colocar as contas públicas nos eixos. Para isso, admitiu a necessidade de calibrar impostos, mas não apontou para quais seriam e muito menos quais seriam os percentuais. De toda forma, ele deixou bem claro o que os analistas esperam: o ajuste fiscal já começou. E esse começo se deu por um emergencial foco nos destrambelhados gastos federais. Em sua disputada cerimônia, onde empresários buscavam sinalizações do novo ministro, Levy fez questão de reforçar a tese de que a retomada do crescimento econômico só será possível mediante uma bem-sucedida readequação de receitas e de despesas. Nesse sentido, o homem forte da economia conhecido pela alcunha de "mãos de tesoura", procurou mostrar tranquilidade e uma imagem carregada da racionalidade que espera imprimir nos próximos anos. Antes de mostrar as suas garras estão afiadas, o titular da Fazenda preferiu explicitar as preocupações com aquilo que melhor traduz o descalabro das contas públicas: a evolução da dívida federal. Ao prometer monitorar com mais atenção à evolução desses números, Levy lembrou a importância de se fazer um arrocho desde já. Nas entrelinhas, sabe-se também que, sem mudança de rumos, o país sofreria logo mais uma punição dos mercados bem mais difícil de se reverter, com o rebaixamento generalizado das notas de crédito pelas agências norte-americanas. A tarefa de Levy não será fácil e ele tem consciência disso. Também por essa razão é que só cresce a torcida para que a presidente Dilma Rousseff não se sinta tentada a interferir nas estratégias traçadas por ele. Para conseguir implementar as suas contenções do Orçamento, os seus resgates de receitas renunciadas e a reconstrução geral de credibilidade no governo, o sereno ministro terá de ser absolutamente firme, autônomo e coerente nas suas atitudes. É no dia a dia que ficará patente o início de uma nova fase, bem diferente da anterior, nos quatro anos do primeiro mandato da chefe do Executivo e da gestão de Guido Mantega, ausente na transmissão de cargo. A liturgia que Levy deverá praticar no exercício de sua função implicará em uma mudança de cultura radical. Não por acaso, avisou que está aberto ao diálogo com todos os agentes econômicos e que vai se pautar pela impessoalidade no trato com todos, sejam os seus interlocutores empresários, colegas de Esplanada ou parlamentares. O caráter técnico é essencial para os objetivos serem atingidos e para uma restauração mais rápida da confiança nos números exibidos pelas contas nacionais. Uma postura íntegra de atitudes e ações deverá levar a uma resposta mais rápida dos mercados e menos sofrida para o bolso dos contribuintes. À medida que discurso casar com prática, o caminho traçado estará conhecido. E a persistência nele, sem percalços gerados pelo próprio Planalto, dissolverá o pessimismo. Fonte: Correio Braziliense, página de opinião, terça-feira, 6 de janeiro de 2015.

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